WHIPLASH E A ÚLTIMA CRISE EXISTENCIAL DOS HOMENS
O filme Whiplash trouxe mais uma vez o que considero ser a última crise existencial do Homem - viver em busca da felicidade ou se perpetuar na História? Certamente as duas coisas não são possíveis e os exemplos estão aí para nos provar isso.
O filme narra a trajetória do jovem Andrew que entra no mais prestigiado conservatório de Jazz dos EUA e deseja não apenas ser um bom músico, mas deixar seu nome marcado na História como fizeram seus ídolos, Buddy Rich, Charlie Parker, Herbie Hancock, e outros - ou você se dedica ou vai ser esquecido mais rápido que seu pai milionário babando no sofá aos 90 anos, diz o severo professor ao aprendiz. "Eu jamais desejaria ser um músico viciado, triste que morre aos 34 anos." fala o tio do rapaz numa discussão familiar "Pois antes um músico viciado que ainda tem seu nome falado num jantar décadas depois de sua morte que alguém que jamais será lembrado."
Fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro
O que são essas ações se não a necessidade intrínseca de perpetuação? Hannah Arendt, em A Condição Humana, esmiúça nossas características e conclui que a única forma de se fugir da condição temporal que aflige a todos é por meio da construção de um legado, uma obra. Só que para se ter isso é preciso abrir mão de prazeres fugazes e terrenos que tomarão tempo e impedirão à qualidade do trabalho. Andrew senta a frente da provável namorada e diz que não pode começar o relacionamento pois para ele ser bom terá que se dedicar cada vez mais e que ela não vai gostar e ele terá que dizer que não poderá reduzir os ensaios e aquilo a deixará mais triste então é melhor eles nem começarem.
Hemingway provavelmente teve uma vida infeliz, sofria de depressão e se suicidou com um tiro na cabeça, mas quem esquecerá o ganhador do Prêmio Nobel de 1954? Também suicidaram-se imortais como Sandor Marai, Van Gogh, Curt Cobain e mais recentemente David Foster Wallacce. E até quando o nome de Steve Jobs será dito a cada lançamento da Apple?
O fato é que a excelência tem um preço, um custo alto que pode arruinar a vida de uma pessoa, mas é única forma de ser lembrado para sempre ou pelo menos por mais uma geração. E quem a deseja de verdade pode esquecer finais de semana e férias repletas de amigos, melhor esperar por problemas de relacionamento, incompreensão e solidão.
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