LONGE DE CASA

É difícil avaliar uma viagem enquanto o impacto emocional ainda está pesando na análise. Tal como quando vemos um filme que gostamos e saímos da sala achando que aquela é a melhor história já filmada em todos tempos. 

Há uns anos conheci o Peter. O Peter era um viajante solitário. Passava uns seis meses trabalhando e depois saia viajando. Peter era italiano, falava um português engraçado que até hoje eu e meus amigos que estavam nessa viagem conseguimos reproduzir. Mas com que você trabalha? A última vez estava dando aulas de natação. Você fez educação física? Não, mas dar aula de natação é fácil. Ele pegava a grana de alguns meses de aula e passava uma infinidade de tempo em outros países. Meu irmão disse que já tinha ido para Indonésia. Quanto tempo? 45 dias. Mas isso é muito pouco. Na Indonésia passei 5 meses a primeira vez e oito a segunda. Suas viagens eram assim, sempre sozinho, sempre low cost, sempre explorando o máximo que o local podia oferecer - 4 meses no Marrocos, dois anos dando a volta na Austrália, 6 meses no nordeste brasileiro e por aí ia. Peter virou ídolo da galera. Vamos manter contato Peter, qual seu nome no Facebook? Não tenho Facebook, não tenho tempo. 

Quando você viaja sozinho há uma espécie de solidariedade que quem te encontra se sente quase obrigado a ter. O Peter comprou um carro velho, dormia dentro dele na beira da praia e fazia sua comida com o fogo de um botijão de gás. Convidamos ele para passar a virada do ano na nossa casa. A felicidade do Peter, em tomar banho quente, comer comida variada e compartilhar suas aventuras conosco é a maior recordação que tenho daquela viagem. 

Paulinho me acolheu em Londres, a Vivi perguntou com quem eu ia passar a ceia de Natal, disse que não tinha nada marcado e ela me convidou para um jantar maravilhoso com toda família, até na Missa do Galo eu fui para acompanhá-los, não consegui ver muito, mas fui. Por fim a família do Lucas, estava fazendo uma ski season em Megéve e ele me convidou para ficar uns dias na casa. Eu só conhecia o Lucas das 8 pessoas que estavam lá, mas desde que cheguei me senti como se estivesse com a minha família. Não sei como agradecer a cada um deles, pois com certeza foram melhores anfitriões do que eu posso ser. 

Ainda não posso dar o parecer final, mas o que vivi desde que pisei em Reykjavik até o último dia de ski sozinho em Combloux, será difícil de
superar. 

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