AS MÁSCARAS

Eu era apaixonada pelos dois.

O Leão era aventureiro e meio filósofo. Ele me falava dos lugares que ia e também das máscaras africanas que fascinavam os pensadores. O Picasso tinha uma coleção delas e pintou-as em vários quadros, inclusive no Les mademoiselle d'avignon. O Freud também era extasiado por isso, surpreendia-se como desde a antiguidade o ser humano criava máscaras como um disfarce para aquilo que realmente queria ser ou sentir.

O Crocodilo era mais pé no chão.

Era difícil decidir, então eles fizeram isso por mim. Enfrentaram-se num dia frio de outono. Fiquei comovida com aqueles dois animais enormes brigando pela exclusividade do meu amor. Só que briga de bicho grande não tem ataque. Eles sabem que se se agredirem um pode morrer e outro ficar bem ferido. Então se enfrentaram só no olhar. Mas foi mais forte que com o contato físico. O Crocodilo venceu. O Leão se afastou.

Fiquei muito tempo sem vê-lo, mas coração de Leão é mole. Um dia ele me avistou e veio falar comigo. A gente conversou bastante, o Leão é uma presença agradável, ele me contou mil aventuras. Falava empolgado quase sem parar. Eu me sinto muito bem ao seu lado. Quando ele conta as histórias eu me sinto parte delas. Como aquela cena do Forest Gump que ele diz para a Jenny que enquanto corria no deserto ou lutava na Guerra do Vietnã, ele pensava tanto nela que era como se ela estivesse junto dele em todos os momentos.

Nisso o Crocodilo apareceu e veio enfurecido na nossa direção. O Crocodilo é muito veloz quando está bravo. Ele chegou para agredir, mas o Leão percebeu e saiu correndo.
Ficamos ali, de frente para o rio, eu acariciando sua pele dura e fria.


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