NATUREZA CRUEL E BONDOSA

Semana passada publiquei no meu Twitter que ouvia uma ópera de Handel. Algumas pessoas me perguntaram qual era, e é por aí que chegamos em Lars Von Trier, um dos meus diretores favoritos. A ópera se chama Rinaldo e a conheci na abertura de Anticristo, filme dele que tem na abertura uma linda ária chamada - Lascia ch'io pianga. A música não podia se encaixar melhor à cena, uma das mais lindas do cinema (vide abaixo). Muita gente acha tanto esta cena, quanto o filme ou todos os filmes do cineasta dinamarquês muito pesados. Entretanto, este é o seu grande mérito. Von Trier não está preocupado em mostrar ao mundo o que todos querem ver e sim como ele acredita que as coisas são na sua essência. Em determinado momento de Melancolia (outro filme dele, que só não ganhou o Oscar porque o diretor deu uma declaração infeliz na abertura do Festival de Cannes em 2011) um asteroide está para se colidir com o Terra e acabar com a vida humana. Um dos personagens indaga - mas isso não pode acontecer, há de haver um significado maior para vida. Eu me pergunto - Será que existe mesmo? Ou será que somos tão egocêntricos que não conseguimos conceber a vida humana sem um propósito maior para nós? Esse exagero de antropocentrismo tenho que concordar com o personagem do livro de Eduardo Gianetti - A ilusão da Alma que passa do razoável. Para mim, a vida segue o seu rumo e os acontecimentos são muito mais aleatórios que deliberados por uma força maior. O que de fato impede de um meteoro nos destruir a qualquer momento, assim como já aconteceu com os dinossauros? Será que somos mesmo seres especiais blindados por uma vontade maior?
De fato, não acredito que seres humanos tenham um papel mais importante que o resto da Natureza no decorrer da vida. Tivemos sim, por circunstâncias randômicas, uma evolução mais rápida que as demais espécies, mas não acredito que haja um ser criador olhando para nós com mais atenção ou que leis da natureza estão preocupadas em poupar "a mais querida das suas criações". A natureza é ao mesmo tempo bondosa e cruel ou pode-se dizer que nem uma dessas coisas, porque ela simplesmente é e segue seu rumo. Se por acaso uma catástrofe acontecer, ela não estará preocupada em poupar esta ou aquela espécie, ela vai destruir o que estiver na frente e pronto.
O que nos resta? Talvez aproveitar o que de melhor há no mundo e certamente os filmes de Lars Von Trier estão nessa lista .



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