GALERA E O FIM DA LITERATURA


Dentre as contribuições que Tchekhov fez à Literatura, talvez a mais notável delas, é ter tirado o peso que um bom fim deve ter numa história. "Contra todas as chamadas regras da arte, gosto de começar com forte e terminar com pianíssimo" Disse ele certa vez ao seu amigo Suvórin. E de fato, isso é muito presente em seus contos, como no mais famoso de todos A Dama e o Cachorrinho, onde o início e o meio da história tem muito mais tensão que o término. Essa tendência de acabar com os finais apoteóticos não acontecia apenas na literatura, Strauss na mesma época (final do século XIX) encantou o mundo com sua mais famosa sinfonia "Assim Falou Zarathustra" (imortalizada no cinema por Stanley Kubrick na abertura de 2001 uma Odisséia no Espaço) de início retumbante e final fading.


                                     

Essa inclinação para um final quase inacabado ou aberto, como os críticos preferem chamar, tomou conta da Literatura depois de Tchekhov, chegando ao ponto de hoje já prevermos que alguns finais ficarão ao nosso arbítrio. A moda pegou mesmo.
Daniel Galera tem todas as características de um bom escritor contemporâneo. Precisão, escrita despretensiosa, personagens fortes, mas o que mais admiro em seus livros é a levada antiga, anterior a Tchekhov e a Strauss. Do tempo que sinfonias e histórias iam crescendo aos poucos, a tensão ia aumentado, a metade muitas vezes se tornava monótona, mas aí surgia o turning point o interesse voltava com força total e o que menos esperávamos acontecia. Finais marcantes, inesquecíveis como o retumbar da 9a Sinfonia de Beethoven. A obra que termina no seu ápice, onde deve ser, no topo.
Quem nunca leu Galera, tem que ler, qualquer um dos seus livros, e espere, o melhor está por vir. 
FIM!!!
  


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