TRISTEZA
Uma sensação,
não, não é uma sensação é o próprio corpo da tristeza quem se apoderou de mim. Sinto-me
sem ter o que fazer se não tentar por um pouco para fora o que estou sentindo.
O Ferreira Gullar tem uma teoria de que o artista é um grande sacana. Quando
não suporta mais seu sofrimento, pega toda a sensação e transforma em arte, se
livrando daquilo, o espectador que passa ali inocentemente é quem acabará
absorvendo a sensação e levando-a para casa. Pode ter certeza que esta não é a
minha intenção.
Sal Paradise
narrador do livro On the Road, passa
por muitos momentos de tristeza em suas cruzadas pelos EUA, mas geralmente é
por não ter dinheiro, às vezes nem para comer. Entretanto é quase no final do
livro, quando ele tinha economizado uma grana da sua bolsa de estudos que ele
se sente mais desolado “... desejando ser um negro, sentindo que o melhor que o
mundo branco tinha a me oferecer não era êxtase suficiente... Desejava ser um
mexicano de Denver, ou mesmo um pobre japonês sobrecarregado de trabalho,
qualquer coisa menos aquilo que eu tão aterradamente era, um branco
desiludido.” Eu já havia comentado no vídeo que fiz sobre a obra de Sandor
Marai que o conflito dos burgueses que ele tão precisamente retrata acabam
sendo muito profundos, pois não se resolvem com um simples contra cheque no
final do mês.
Mas voltando a
minha tristeza (é até difícil por essa palavra no texto, reluto por admiti -
lá) mesmo sabendo que ela vai passar, e que também voltará, sinto-me como um
desiludido - branco, preto, japonês, seja lá o que for, mas passar por decepções,
ou reconhecer uma decepção depois de muito tempo é algo que me fere o fundo da
alma, que destroça qualquer ego e que me faz me sentir um idiota.
Ainda não
entendi porque, mas a todo momento me vem na mente a imagem de uma maçã, uma
maçã já pobre e carcomida pelos vermes, uma maçã que já não possui nenhuma
função no mundo se não voltar ao que era originalmente, terra próxima a alguma
semente. É na semente que está toda a força, a esperança, o novo, o mistério. E
sim, ali dentro da maçã podre, há sementes.
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