LEITURA DO FERIADO

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Não que eu tenha passado o feriado inteiro lendo, mas a combinação de aeroportos, praia e ócio me possibilitou acabar três bons livros esse final de semana. Vamos ao que tenho a dizer sobre eles.



On the road de Jack Kerouac
O livro de Kerouac já nasce como um clássico, sua importância atravessa as décadas e apesar do autor negar, foi esta obra que influenciou a ideologia hippie de viagens sem destino e liberdade sexual. Ele antecipou tudo o que seria vivido pela América nos 60’s.  O entusiasmo de Jack por estar na estrada ressoa na alma daqueles que também nasceram como nômades natos. Sua escrita tem por objetivo ser um reflexos do fluxo dos nossos pensamentos, fluidos, ininterruptos e nem sempre seguindo uma lógica.
A tradução para o “brasileiro” (a edição portuguesa usava termos como boleia para designar carona e Oregão para o estado americano de Oregon) do também escritor e historiador Eduardo Bueno, o Peninha, merecidamente ganhou muitos prêmios quando foi lançada em 1984. O fato de Peninha ser um verdadeiro Beatholics deve ter contribuído muito para seu trabalho. A introdução que ele dá ao texto é fantástica apresentando toda a importância literária deste livro que marcou época e que continua influenciando gerações.
“Bod Dylan fugiu de casa depois de ler On the Road. Chrissie Hynde, dos Pretenders, e Hector Babenco, de Pixote, também. Jim Morrison fundou The Doors. No alvorecer da década de 90, o livro levou Beck a tornar-se cantor, fundindo o som das ruas com a poesia beat. Jack Dylan, filho de Bob, deixou-se fotografar ao lado da tumba de Jack em Lowell, Massachusetts, como o próprio pai fizera, vinte anos antes. Em 1992, Francis Coppolla (o produtor), Gus Van Sant (o diretor) e Johnny Depp (o ator) envolveram-se numa filmagem nunca concretizada do livro – e apesar da diferença de idade, os três compartilham o mesmo fervor pela obra.” Preciso dizer mais? 


Tannhäuser em Paris de Baudelaire
O autor de Flores do Mal e de muitas peças de sucesso no teatro não era apenas um artista completo, mas também um grande crítico de sua área “um poeta que não seja também um crítico é um artistas incompleto” dizia ele. Pois Baudelaire fez contribuições importantíssimas a literatura como a tradução de O Corvo para o francês e praticamente descobrimento de Allan Poe.
Neste livro, Baudelaire vai à defesa de um dos maiores gênios da história da música. Richard Wagner. Hoje não se consegue conceber, alguém criticando a capacidade criativa de Wagner, mas seus contemporâneos custaram e muitos morreram sem reconhecer seu talento. Esse livro é um estudo sobre a obra do compositor alemão e como ele conseguia conciliar em suas peças Teatro, poesia, música e filosofia. Um livro indispensável aos amantes da música erudita.

O Africano - Le Clézio
Meu primeiro contato com Le Clézio foi o livro Pawana, que figura entre meus top 10, depois tentei ler A Quarentena, mas não gostei e larguei no meio. Resolvi dar uma nova chance ao escritor francês e não apenas gostei de O Africano como entendi porque meu desgosto pelo outro. Le Clézio é um escritor de uma precisão incrível e não economiza em detalhes ao descrever cada cena de suas histórias, isto faz com que o livro se torne interessante, mas ao mesmo tempo com um ritmo lento demais para uma história longa. Pawana e O Africano são livros curtos de um pouco mais de cem páginas, já A Quarentena ultrapassa 300 e a partir de um momento a história se torne maçante. O vencedor do Nobel em 2008 é dono de uma capacidade, que eu até então desconhecia em outro escritor, de conciliar a prosa com a poesia, suas frases são milimetricamente deliberada e se nota um apreço muito grande por quem as vai ler. Livro muito sensível retratando a parte de sua vida vivida na África e todas as dificuldades que seu pai passou morando décadas no continente mais pobre do planeta.

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