SEM PALAVRAS
Havia viajado o
dia todo, estava exausto, comprara uma daquelas passagens baratas que quando
você acha pensa que fez um puta negócio, mas a hora que o avião vai parando em
uma cidade depois da outra, que você nem sabe mais onde está, você pensa no
administrador da companhia falando “Ah é? Você quer pagar barato para viajar?
Então vai ver o que é bom pra tosse.” Peguei minha mala, caminhei em direção ao
saguão e vi uma placa rosa, era bem feita, bonita, mas
eu só pude achá-la horrível, devia ter umas 10 frases e não dava para se ter a
mínima ideia de nenhuma palavra, lembrei do filme que leva o nome dessa cidade
no qual bem no começo alguém cita “dizem que húngaro é única língua que o diabo
respeita.” Pela primeira vez na minha vida senti medo de estar num lugar
desconhecido. Que merda que to fazendo nessa cidade, sozinho, sabendo que aqui
nem todos falam inglês? Não sei se foi bem medo, mas uma apreensão, ou talvez
eu esteja com vergonha de dizer - medo. O pensamento seguinte foi – ainda bem que
usei o Airbnb, porque vão ter umas pessoas na casa para me fazer companhia e me
dizer o que fazer por aqui. Quando cheguei no endereço descobri que tinha
alugado um apartamento sem ninguém e o medo voltou.
Sai para comer
alguma coisa, era um mexicano, desses que há em toda cidade. Tentei pensar de
novo porque eu estava aqui. Lembrei que vim conhecer a cidade de Marai. Sim,
foi esse o motivo da escolha, e ninguém iria ser louco de ir a uma cidade só
porque leu os livros de um cara que morou naquele lugar. Então, tive que vir
sozinho mesmo.
Eu sabia que
quase todos os pontos turísticos daqui se concentram em torno do Danúbio – Como
faço para chegar ao rio? Eu só tinha sentido isso uma vez, foi no meu primeiro
contato com Paris, nem Nova York, Londres, nenhuma outra cidade tinha me gerado
a sensação de “Puta que pariu, que cidade é essa? Quem fez tudo isso?” Sim foi
assim o impacto. Quando conheci Nova York eu esperava sentir
isso de novo, olhava para tudo, caminhava a cidade de cima a baixo e a sensação
não vinha. Depois aprendi a gostar muito de lá, mas essa sensação era exclusiva
de Paris, até agora. Paris também tem uma coisa que só vi aqui, para todo lugar
que você olha vê um cartão postal. Pensa – isso é tão bonito que eu já devo ter
visto em algum lugar. E por toda parte da cidade você vê gente batendo foto, as
pessoas tiram foto de tudo por aqui.
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