#NoParaisoDeGauguin - second day, second life

As expectativas, sempre elas, distorcendo nossas percepções.
Sibelius quando compunha seu concerto para violino disse para a sua esposa - encontrei a mais perfeita nota já colocada no início de uma música. Os escritores também sempre pensam isso da sua primeira frase. O leitor médio nem percebe e o entendedor sabe que não é. Mas enfim, eu adorei esse início, e acho que até já o usei em outro texto.
Cheguei ao Tahiti com a expectativa de encontrar um povo muito amável e ondas nada amigáveis. Não sei se tivemos sorte, mas os dois primeiros dias por aqui não foram dos mais difíceis. Dentro do mar, nada de diferente - clima competitivo e a eterna richa entre todos que disputam as ondas, mas eu não percebera que não havia nenhum local surfando.
Foi quando entra em ação um tahitiano chamado Raimana VanBastoeler. Ele está hospedando uma equipe de surfista profissionais dos Estados Unidos e como acontece normalmente com competidores, estes não respeitam quem está abaixo do seu nível. Quando Raimana percebeu que o clima na água estava começando a ficar pesado ele grita para os americanos - hey guys, you allready get a lot of waves, so now you will share the waves, one wave for each. Nós nos olhamos e não acreditamos que aquilo estava acontecendo. Eu mesmo pensei que ele queria que os próprios americanos dividissem as ondas. Are you brazilians? So, now one wave fore USA and the other for Brazil, dizia ele num inglês com sotaque francês. A partir dali começou a coordenar cada série como se fosse um árbitro dizendo quem ia em cada uma - now brazil, brazil still going. Now USA, Go USA, Go... 
E aquela cena que eu jamais presenciara, pois mesmo nós brasileiros, que sempre nos achamos generosos, sempre costumamos sê-los com quem está mais próximo ou com quem contrata nossos serviços. Eu não conhecia esse altruismo sem pretenções de retorno. E o tahitiano nos deu uma lição de caráter inabalável...