NO FINAL, O QUE SOBRA DE NÓS?



Quando morei em Nova York, principalmente no início, eu passava muito tempo sozinho. Calma, isto não é para ser uma história triste, pelo contrário, eu gostava daquela solidão. Foi dentro dela que comecei a me afastar de alguns hábitos indesejáveis e a me disciplinar em outros que sempre quis manter constância. Com o tempo, fui percebendo que o que de fato somos, somos quando estamos sozinhos. Pois assim, com o mínimo de interferência de fatores condicionadores das nossas ações como amigos, familiares e sociedade em que vivíamos, podemos ser quem definitivamente queremos ser. Pois estes condicionadores fazem com que ajamos muitas vezes em desacordo com o que verdadeiramente queremos.

 
Como nada é absoluto, talvez nem mesmo nossa essência, trago outras opiniões sobre o que sobra no final desse animal tão difuso chamado Ser Humano.
Em 1986, Ian McEwan (se você é leitor do blog, já deve estar de saco cheio de me ver citando-o) acabara de terminar A criança no tempo e resolveu fazer uma experiência lendo-o pela primeira vez no Festival Literário de Adelaide, narrou uma parte em que uma menina é capturada e quando terminou, Robert Stone se levantou e começou um discurso inflamado. Parecia realmente estar falando com o coração. Ele disse:
-       Por que fazemos isso? Por que nós, escritores, fazemos isso, e por que é isso também o que os leitores querem? Por que procuramos dentro de nós mesmo aquilo de pior em que se pode pensar? A literatura, especialmente a literatura contemporânea, está sempre em busca da mais terrível das histórias.
McEwan respondeu, trazendo a primeira contradição à minha teoria do que somos.
-       Não tenho resposta clara para isso. Recorro sempre a essa noção do teste ou da investigação de caráter e de nossa natureza moral. Conforme a famosa pergunta de James: o que é um incidente senão a ilustração de um caráter? Talvez usemos essas histórias terríveis para medir o alcance de nossa própria moral. E talvez precisemos liberar nossos medos no terreno seguro da imaginação como uma forma de exorcismo esperançoso.
Para confundir ainda mais a questão mais confusa do ser humano (o que de fato somos?) trago a opinião de Ayn Rand que no volume II do seu volumoso A revolta de Atlas, dá voz a um dos seus personagens principais, Hank Rearden que dispara “O que um homem faz movido pelo desespero não é necessariamente uma chave para se compreender seu caráter. Sempre achei que a verdadeira chave está naquilo que ele faz por prazer.”
A conclusão fica com você, eu ainda estou buscando a minha...

Comentários

  1. caí aqui nesse blog por acaso e gostei desse texto. eu morei muito tempo fora e também aprendi a conviver mais comigo mesmo, ou seja, vivi uma "solidão". mas em inglês existe uma diferença entre solitude e loneliness. é um momento oportuno para ler, ver filmes e para viajar no autoconhecimento.
    abraço

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  2. É verdade... Eu adoro estar sozinha com meus pensamentos, todo dia, parece que estou organizando as pastinhas na minha cabeça... Mas vivemos numa sociedade e somos sempre influenciados pelo meio... é involuntario. Acredito que somos um pouco disso também! cada um reage de um forma àquilo que acontece a nossa volta, sozinhos, ou não. Afinal, quem consegue viver só?

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  3. Acredito que o sentimento de testar a moral e os limites são as engrenagens da criação; as obras mais revolucionárias, atemporais e magníficas foram fruto de total submersão.

    O homem cultiva esse desejo de se desvendar, uma busca para extasiar a mente, e o escritor, em sua condição mais humana busca vislumbrar essa essência nas suas páginas.

    Grande parte das vezes, o resultado torna seu criador refém de sua própria inspiração, mas, vez ou outra, surge algo grandiosamente belo; que fascina e assombra, arrebata o pensamento. Afinal, a mente humana é muito mais traiçoeira do que gostaríamos de admitir.

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