AMOR SEM FIM - IAN MCEWAN



Uma onda de racionalismo vem banhando minhas leituras nos últimos tempos. Começou com Ayn Rand, e sua Revolta de Atlas, ocupando boa parte das minhas noites mal dormidas. Literalmente - a obra que, segundo a biblioteca de Chicago, mais influenciou os EUA depois da Bíblia - deixa um pouco a desejar, mas a coerência de sua filosofia, o Objetivismo, transforma seu mais importante livro numa grande obra. Rand defende o sistema racional como a melhor forma de se alcançar a felicidade.
Foi aí que chegou às minhas mãos uma crítica de Amor sem fim, que acaba de ser reeditado no Brasil pela Companhia das Letras, e me deixou com muita vontade de lê-lo. Interrompi a leitura de Ayn (parece que McEwan não sabe mesmo esperar sua vez) pensando que seria invadido por todo aquele sentimentalismo presente nos romances. O texto começa com uma descrição impressionante de uma cena em que cinco homens tentam desesperadamente salvar uma criança e um velho que não conseguem controlar seu balão de hélio. Tudo parecia caminhar para mais uma defesa das emoções.

Abro um parêntese para expor minha opinião sobre essa luta tão presente dentro de nós – EMOÇÃO X RACIOCÍNIO. Não é difícil repetir que devemos sempre seguir nossos corações, que as emoções devem ser vividas intensamente e que quem não se entrega totalmente não pode dizer que existiu nesse mundo. Será que na prática isto é mesmo verdade? Será que poetas, boêmios e hedonistas são exemplos de felicidade? E o que dizer dos tantos autores românticos que cometeram suicídio? Acredito que o que sentimos não deve ser reprimido - sou contra tentativas inócuas de mecanização do homem. Deve-se sim explorar as sensações e vivenciá-las, mas por outro lado, se formos dar sempre ao emocional  a preferência em nossas ações, passaremos a comer mal, dormir muito e produzir pouco. Sem contar todo o sofrimento que relações frustradas e expectativas enormes geram em quem apenas segue seu coração. Incomodando ou não, a verdade é que o racional é uma manifestação mais sofisticada que o emocional. Afinal, não é a capacidade de pensar que nos diferencia das outras espécies?
Mas voltando ao livro de McEwan, o personagem principal é um jornalista científico que possui o talento de transformar temas complexos em algo inteligível para pessoas leigas, um intelectual conhecedor de muitos ramos da ciência e que tende sempre seguir sua razão. Depois do acontecimento do balão, ele é perseguido por Perry, um fanático religioso que projeta toda a sua felicidade na concretização de um relacionamento com Joe. Embora Perry seja um caso patológico de entrega às emoções, todos nós possuímos pelo menos um pouco desta tendência. Aparentemente é mais cômodo fazer simplesmente o que se tem vontade, mas o que devemos nos questionar é se essa é realmente a melhor atitude a ser tomada.  
Para finalizar deixo um trecho da entrevista publicada no último post, que fala um pouco sobre a intenção do autor com este livro.
“Queria escrever alguma coisa em tributo à razão. Desde Blake, Keats e Mary Shelley, o impulso racional tem sido associado à falta de amor, a uma frieza destrutiva. Na nossa literatura, os personagens que hesitam em seguir seus corações são sempre aqueles que terminam mal. E, no entanto, nossa capacidade de pensar racionalmente é um aspecto maravilhoso de nossa natureza, e quase sempre tudo que temos para enfrentar  o caos social, a injustiça e os piores excessos da convicção religiosa. Ao escrever Amor para sempre, dei uma resposta a um velho amigo que uma vez me disse que Bernard, o racionalista de Cães negros, está sempre em desvantagem no romance.

Comentários

  1. "Emocínio"

    Era a parede tentando olhar pela janela.

    Larga feito a muralha, transparente feito vidro sem fumê,
    sua mente só via horizonte, sempre havia algo novo pra se ver.

    Passou a noite, a madrugada, a manhã e o entardecer.
    A poeira cobria as calçadas, o Sol a escurecer.
    A Lua voltava pra casa e brincava, no céu, a correr.

    Seu olho comprido, sempre longe
    era a ponte pra fonte de um novo saber.

    Era o teto ficando sem chão ao perceber que era o chão do segundo andar.

    Acaso subimos tão alto para termos o direito de nos vanglorizar?
    A torre que é o alicerce de outra torre que vai se aprumar.

    Crescer na horizontal ou se verticalizar?
    A ida que vai e volta, o nada que pinga lá.
    Serpente que silva enrolada na base do seu pensar.

    Verdade que não está nos livros e nem no parampará,
    é aquela trazida no peito, que faz o sujeito rimar.

    É o riso cantando emotivo e é o motivo de se acordar.

    É a cabeça ficando sem jeito pois é contra-senso não se emocionar.

    --------------------------------------

    O pensamento é um catavento que gira com o sopro do sentimento mas pra não barrar o vento é preciso que não tenha nada lá dentro.

    Mente vazia, oficina do coração.

    É o Diabo querendo ser Deus.
    É o Raciocíno querendo Emoção.

    Quem sou eu?

    ========================
    Pedro Gabriel
    yôgin - Unidade Santos
    euoutroeu.blogspot.com
    ========================

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  2. Era a parede tentando olhar pela janela.

    Larga feito a muralha, transparente feito vidro sem fumê,
    sua mente só via horizonte, sempre havia algo novo pra se ver.

    Passou a noite, a madrugada, a manhã e o entardecer.
    A poeira cobria as calçadas, o Sol a escurecer.
    A Lua voltava pra casa e brincava, no céu, a correr.

    Seu olho comprido, sempre longe
    era a ponte pra fonte de um novo saber.

    Era o teto ficando sem chão ao perceber que era o chão do segundo andar.

    Acaso subimos tão alto para termos o direito de nos vanglorizar?
    A torre que é o alicerce de outra torre que vai se aprumar.

    Crescer na horizontal ou se verticalizar?
    A ida que vai e volta, o nada que pinga lá.
    Serpente que silva enrolada na base do seu pensar.

    Verdade que não está nos livros e nem no parampará,
    é aquela trazida no peito, que faz o sujeito rimar.

    É o riso cantando emotivo e é o motivo de se acordar.

    É a cabeça ficando sem jeito pois é contra-senso não se emocionar.

    --------------------------------------

    O pensamento é um catavento que gira com o sopro do sentimento mas pra não barrar o vento é preciso que não tenha nada lá dentro.

    Mente vazia, oficina do coração.

    É o Diabo querendo ser Deus.
    É o Raciocíno querendo Emoção.

    Quem sou eu?

    ======================
    Pedro Gabriel
    yôgin - Unidade Santos
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  3. "A Palavra"

    (Palavra na Filosofia)

    Novas confusões, novas decisões...

    Nada do que se passa no coração pode ser expressado de maneira integral e verdadeiramente inteligível através da Palavra.

    Palavra: a cerca de arame-farpado da realidade.

    A palavra dita, escrita ou simplesmente pensada é só a foto de um sentimento que está em constante mutação.

    A palavra é munição que depois de disparada não tem mais nada a ver com a arma que a disparou.

    A palavra só estaria imbuída de Verdade quando as emoções estivessem em silêncio, mas, neste momento, a palavra já não seria necessária - nem mesmo o próprio Silêncio, o seria. O resultado seria Consciência.

    Mas "palavra", "silêncio", "consciência", são apenas conceitos rudemente expressos por palavras que encerram suas dimensões.

    A única expressão que tem valor verdadeiro é o ponto final, sendo assim...

    .

    (Palavra na Poesia)

    A Palavra que tanto evito
    é um tanto matreira,
    é do não dito, o fim,
    e do limite, a primeira,
    é sagrada ao sábio,
    mas ao tolo, traiçoeira,
    do sentimento, foto,
    e ao mesmo tempo, alheia,
    do general, é aço,
    do pensador, areia,
    é magia, ao mágico,
    mítica, a sereia,
    estática se culta,
    mas, coloquial, "vareia",
    não dita pelo que foi dito,
    encobre o que lhe permea,
    amarra o que simboliza,
    liberta o que incendeia,
    tece as formas da prosa,
    e, a poesia, floreia.

    Palavra, é tão difícil te evitar!

    Lamento muito ter que empregar-te,
    mas agradeço, por deixar-se usar.

    =======================
    Pedro Gabriel
    yôgin - Unidade Santos
    euoutroeu.blogspot.com
    =======================

    Entendeu o motivo porquê precisamos de emoções e poesias?

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