SMS


Mandei. Está indo. Nãoooo. Será que dá para cancelar? Já foi!
Deixa! É apenas mensagem de texto. Um SMS, só isso. 
Agora minhas palavras se transformarão em códigos. Percorrerão satélites no espaço sideral e voltarão às emaranhadas redes da telefonia, aí cairão num sistema de decodificação que instantaneamente, revelará as frases à ela.
Mas como sua massa encefálica, com suas milhões de sinapses, com seus desejos reprimidos somados as suas experiências íntimas, interpretará a minha mensagem? Não importa, é só um SMS mesmo.

Antes de apertar a tecla de enviar, havia euforia, esperança. E só se passaram 20 minutos para tudo mudar. A mensagem foi, ficou o arrependimento, a dor. Uma dor que ainda é leve, suportável, mas que aumenta cada vez que ligo o telefone e vejo que não recebi nada. Se ela soubesse o quanto sua omissão me maltrata, será que agiria assim ou quem sabe, faria pior?   
A lágrima, o líquido composto de água, sais minerais, proteínas e gordura produzido por glândulas nas pálpebras superiores dos globos oculares serve para lubrificar e limpar os meus olhos. Sim, deveria ser para lubrificar, mas não é.
A lagrima está longe de ser um lubrificante. Ela é a condensação líquida do sofrimento, a vazão da alma, o suspiro do vazio.
Ligar?
A voz é muito mais difícil de ser transmitida que uma mensagem de texto. O sistema de codificação do som é mais complexo. O aparelho fonador também é mais complicado que o simples movimentar dos dedos. E a interpretação dela... sim, muito risco. O sofrimento poderia subir à última potência e eu não resistiria. Melhor não!
Mas quem sabe, ela não tenha recebido o SMS.

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