TODOS JUNTOS?

Algo intrigante nesta minha obsessão por mentes superdotadas é que dificilmente os gênios aparecem sozinhos. Parece que existe uma tendência kármica de colocar vários talentos todos ao mesmo tempo no mesmo lugar. Um exemplo disto é o filme brasileiro Uma noite em 67 que retrata o festival de música brasileira daquele ano. Disputam a final nada menos que Roberto Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Edu Lobo, nomes que mais de 30 anos depois continuam sendo os maiores destaques da nossa música. Nunca mais apareceu um grupo assim. Me questiono se isto acontece pelo fato de uma mente muito brilhante influenciar outras e elevar o nível do grupo ou se é a concorrência entre vários destaques que os alça ao patamar de gênios.





As invasões bárbaras, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2004, conta a história de um professor universitário que tendo pouco tempo para o fim da sua vida, chama seus melhores amigos para passarem os últimos dias juntos numa casa de campo a beira de um lago. Confissões, risadas e conversas de alto nível intelectual preenchem o ambiente da despedida. Numa delas, os intelectuais discutem qual foi o agrupamento de gênios mais influente da história. O debate começa assim "A inteligência não é uma qualidade individual, como se costuma pensar. É um fênomeno coletivo, nacional, intermitente."

E então eles compõem os seguintes times:

Atenas - 416 a.C. estréia de Eletra, de Eurípedes. Assistiam a peça os dois rivais, Sófocles e Aristófanes e seus dois amigos Sócrates e Platão.

Florença - 1504, Palazzo Vecchio. Duas paredes, dois pintores. À direita, Leonardo da Vinci, à esquerda, Michelangelo, um aprendiz: Rafael e um adminstrador: Machiavelli.

Filadélfia, EUA, 1776, 1787. Declaração da Independência e Constituição dos EUA. Adams, Franklin, Jefferson, Washington, Hamilton e Madison.

Apesar de amar este último grupo, vou montar o meu dream team.

Paris - 29 de maio de 1913, primeira apresentação da Sagração da Primavera, a polêmica obra de Stravinsky. Apesar da tumultuada noite de estréia, aquele foi o grande evento cultural da primavera parisiense. Após muitas críticas, a obra ganhou respeito e foi assistida pelos principais artistas que moravam na cidade. A Paris da 2a década do século XX vibrava cultura, inovação e genialidade.

Marcel Proust - publicara a primeira parte do imortal Em busca do tempo perdido. Conta-se que foi na peça de Stravisnky que se encontrou a única vez com seu maior rival.
James Joyce - naquele ano preparava sua coleção de contos Dublinenses. Já dando uma idéia da revolução que faria com Ulisses. 
Claude Monet - trabalhava em obras que naquele momento já estavam além do Impressionismo, movimento fundado pelo grupo que liderava em 1872. 

Ernest Hemingway - chegaria a Paris um pouco depois 1918, se estabelecendo por lá a partir de 1921.
Coco Chanel - já era respeitada e rica, sendo mescenas e amante de Stravisky neste período.
Pablo Picasso - inaugura naquele ano o Cubismo.
Henry Miller - chega um pouco depois para viver suas loucas experiências retratadas em Trópico de Câncer.
Marcel Duchamp - inova com sua Arte ready made.
Henri Matisse - atravessava um período que declarou posteriormente ser o mais importante da sua carreira, passando de uma pintura austera, com linhas retas e formas geométricas para um estilo mais solto com figuras femininas e interiores como seus principais temas.

No filme, um dos intelectuais concluiu com a triste frase "a inteligência desapareceu e não querendo ser pessimista, às vezes ela se ausenta por um tempo." Mas nós não vamos desistir, mande seu time para mim que eu prometo publicar, quanto mais recente melhor.

Comentários

  1. O livro "Outliers" do Malcolm Gladwell fala sobre isso e tenta dar uma explicaçao. bjs

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  2. Gostei do seu time de Paris.
    Gostei também dessa pergunta, será que a inteligência se manifesta por grupos ou que a competitividade faz com que todos tentem se auto-superar e assim atingir super níveis.
    Vou pensar no meu time...
    Actualmente, nem precisa acontecer que o time esteja num mesmo local (cidade, pais) e sim num mesmo tempo. Pois o local físico "internet" nos junta a todos num mesmo lugar.
    Beijinhos.

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  3. Rapaz, também sou apaixonado por este tema. E como sou igualmente apaixonado por biografias, poderia citar uma série de outros grupos de "numinosos" que caminharam por este planeta e deixaram sua marca em diversos campos do saber. Mas vou me poupar do desfile destas personas e apenas acrescentar que, de certo modo existem "duas explicações", uma científica e outra espiritualista, bem... Eu fico com o aprendizado, deleite e consequente evolução que todos eles de algum modo nos proporcionam! :-)

    Abraço,

    Gileno.

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  4. Opa! Compartilhei este link no twitter do @Livros_e_afins e deu uns bons RTs: http://migre.me/1eKLR . Excelente post. Vai ter link em vários de meus blogs tb.

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  5. Eu sempre imagino esses mesmos grupos de pessoas fora da média, curiosamente. Acho que, forçando um pouco, dá para colocar também o Aristóteles no grupo grego; ele não conviveu com Sócrates, mas foi discípulo de Platão. E, se considerarmos esse esquema de professor-aluno, dá para citar também Alexandre, o Grande.

    Há uma corrente, no outro lado da filosofia, ou seja, no nascimento da filosofia moderna, que também é digna de nota. Não se encaixa exatamente na sua proposta, do mesmo lugar à mesma hora, mas dá para ver um monte de gênio que foi se sucedendo uns aos outros, como uma escadinha. Kant-Goethe-Schopenhauer-Nietzsche, só para ficar nos exemplos mais à mão.

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  6. Berlim, década de 20. Não necessariamente juntos, mas vivendo no mesmo ambiente cultural: Brecht, Weil, Gropius, Husserl, Benjamin, Adorno, Husserl, Heidegger, Gödel, Klee, Lang, von Sternberg.
    http://en.wikipedia.org/wiki/Weimar_culture

    São Paulo, Semana de 22.

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  7. Outro encontro memorável para "Todos juntos" foi a Viena "fin-de-siècle". Entre 1890 e 1910 houve uma explosão, por assim dizer, de ideias e literatura da chamada modernidade vienense. Eis aí a coincidência de nomes: em filosofia (positivismo e epistemologia em Ernst Mach, fenomenologia e filosofia da linguagem em Franz Brentano); ciências humanas (a psicanálise de Sigmund Freud, a história da arte em Alois Reigel e Franz Wickhoff); em ciências sociais (a renovação da economia política em Carl Menger e seus discípulos e do direito em Hans Kelsen; em literatura (Hugo von Hofmannsthal, Hermann Bahr e Arthur Schnitzler - a propósito, deste último, a literatura permanece muitíssimo atual, e merecia ser mais publicado aqui no Brasil; nas artes plásticas (Gustav Klim e a Secessão, artes decorativas e Wiener Werkstätte, erupção do expressionismo em Oskar Kokoschka e Ergon Schiele); em arquitetura (Otto Wagner e Adolf Loos): em música (de Gustav Mahker a Arnold Schönberg), e, sem esquecer da política (nascimento do anti-semitismo moderno e do sionismo, formação do austro-marxismo).

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