COMPROMISSO COM A OBRA
Aos 30 anos, Nelson Rodrigues já conhecia muito bem os altos e baixos da vida. Depois de uma infância difícil, seu pai fundara dois jornais de sucesso no Rio de Janeiro. O segundo deles faliu após um trágico incidente envolvendo seu irmão Roberto, que era um talentoso cartunista. Depois de retratar uma mulher que havia acabado de se desquitar, esta comprou uma arma, invadiu a redação do Crítica e atirou nele na frente de Nelson. Após o assassinato, o pai, Mario Rodrigues, deprimiu-se e morreu poucos meses depois. A família enfrentou muitas dificuldades e chegou a passar fome na época.
Em 1943, Nelson Rodrigues, então empregado do Jornal O Globo, escreve uma peça de teatro intitulada Vestido de Noiva. Do dia para noite o escritor foi catapultado ao patamar de gênio e "fundador do teatro brasileiro." Falava-se dele por toda parte, desde os botecos cariocas até nas principais revistas do país e sua próxima peça, era aguardada com muita ansiedade. Album de família estreiaria numa sexta-feira, três anos após Nelson ser consagrado como o maior dramaturgo brasileiro. No sábado, a peça foi censurada e todos que haviam assistido a premier fizeram pesadas críticas. Repleta de relações incestuosas, Album de familia chocou a sociedade brasileira da década de 40. Após o escândalo, as pessoas passaram a evitar o escritor, a mídia o escrachava, conhecidos passavam na rua sem cumprimentá-lo, ninguém queria ter relação com alguém de "mente tão suja." Parecia incompreensível por que no ápice do sucesso, com uma carreira promissora, ele colocara tudo a perder escrevendo uma obra tão polêmica.
Mircea Eliade, o famoso historiador, assim como o brasileiro, começou sua carreira bastante cedo e aos 26 anos publicou um livro de sucesso inesperado - Noites de Bengali. "Tornei-me célebre: os jornais falavam de mim, reconheciam-me na rua." Mas o romeno não deixou o sucesso desvia-lo do compromisso com sua Obra. "É agradável, mas não é nada extraordinário. Então o resto da minha vida, deixei de ser tentado por isso... Eu tive isso bastante jovem, esse sucesso, fiquei bastante feliz, e isso ajudou-me a escrever romances que não eram feitos para o sucesso."
"Sociedade, comunidade e família são instituições conservadoras. Elas procuram manter a estabilidade e evitar, ou pelo menos desacelerar, as mudanças." Peter Drucker.
A Arte sempre estará em conflito com a sociedade. E este atrito vem sendo fortemente vivenciado pelos compositores de música erudita desde a morte de Wagner. A música é uma experiência de grande impacto pscicológico pois ao observar uma pintura numa galeria por exemplo, se aquilo lhe causar desconforto ou mesmo desentendimento, você poderá seguir adiante, refletir e voltar mais tarde ou não. Num concerto os espectadores vivenciam uma nova obra coletivamente, na mesma velocidade e quase a mesma distância. Não podem parar para pensar sobre as implicações de um acorde de beleza pouco óbvia ou de um ritmo oculto da valsa. São uma multidão, e multidões tendem a alinhar-se como uma única mente.
Gustav Mahler, após ouvir a opéra Salomé de seu maior concorrente, Richard Strauss e percebendo que o público não conseguia captar a magia da obra escreveu. "Se é Arte, não é para todos. E se é para todos não é Arte." Debussy vivendo o mesmo drama de ou ter de fazer coisas banais para agradar o povo ou fazendo Arte de verdade, escreveu ao seu colega Ernest Chausson:
"A música deveria na verdade ser uma ciência hermética, resguardada em textos de decifração tão difícil e trabalhosa que desencoraje o rebanho daqueles que a tratam com a mesma falta de cerimônia que dedicam a um guardanapo! Eu gostaria de ir além e, em vez de difundir a música entre o populacho, proponho a fundação de uma Sociedade do Esoterismo Musical."
Schoenberg já previa o escânlo que seu trabalho causaria na sociedade. Seu Primeiro Quarteto de Cordas é considerada a obra que gerou o maior alvoroço na história da música desde a estréia de a A Sagração da Primavera de Stravinski ao lançamento de Anarchy in UK dos Sex Pistols. "Sinto o calor da revolta erguendo-se mesmo nos espíritos mais delicados e desconfio que mesmo aqueles que até agora acreditaram em mim não aceitarão a necessidade desse desenvolvimento." Naquela apresentação de 1907 houve pessoas que chegaram às vias de fato e a polícia teve que comparecer para atenuar a confusão.
Enquanto houverem corajosos artistas dando a cara para a sociedade bater, a Arte existirá. Sempre haverá tumultos e sempre haverá pesadas críticas, mas o importante é que eles continuem acreditando que aquilo que deve ser feito, tem de ser feito, custe o constrangimento que custar.
Em 1943, Nelson Rodrigues, então empregado do Jornal O Globo, escreve uma peça de teatro intitulada Vestido de Noiva. Do dia para noite o escritor foi catapultado ao patamar de gênio e "fundador do teatro brasileiro." Falava-se dele por toda parte, desde os botecos cariocas até nas principais revistas do país e sua próxima peça, era aguardada com muita ansiedade. Album de família estreiaria numa sexta-feira, três anos após Nelson ser consagrado como o maior dramaturgo brasileiro. No sábado, a peça foi censurada e todos que haviam assistido a premier fizeram pesadas críticas. Repleta de relações incestuosas, Album de familia chocou a sociedade brasileira da década de 40. Após o escândalo, as pessoas passaram a evitar o escritor, a mídia o escrachava, conhecidos passavam na rua sem cumprimentá-lo, ninguém queria ter relação com alguém de "mente tão suja." Parecia incompreensível por que no ápice do sucesso, com uma carreira promissora, ele colocara tudo a perder escrevendo uma obra tão polêmica.
Mircea Eliade, o famoso historiador, assim como o brasileiro, começou sua carreira bastante cedo e aos 26 anos publicou um livro de sucesso inesperado - Noites de Bengali. "Tornei-me célebre: os jornais falavam de mim, reconheciam-me na rua." Mas o romeno não deixou o sucesso desvia-lo do compromisso com sua Obra. "É agradável, mas não é nada extraordinário. Então o resto da minha vida, deixei de ser tentado por isso... Eu tive isso bastante jovem, esse sucesso, fiquei bastante feliz, e isso ajudou-me a escrever romances que não eram feitos para o sucesso."
"Sociedade, comunidade e família são instituições conservadoras. Elas procuram manter a estabilidade e evitar, ou pelo menos desacelerar, as mudanças." Peter Drucker.
A Arte sempre estará em conflito com a sociedade. E este atrito vem sendo fortemente vivenciado pelos compositores de música erudita desde a morte de Wagner. A música é uma experiência de grande impacto pscicológico pois ao observar uma pintura numa galeria por exemplo, se aquilo lhe causar desconforto ou mesmo desentendimento, você poderá seguir adiante, refletir e voltar mais tarde ou não. Num concerto os espectadores vivenciam uma nova obra coletivamente, na mesma velocidade e quase a mesma distância. Não podem parar para pensar sobre as implicações de um acorde de beleza pouco óbvia ou de um ritmo oculto da valsa. São uma multidão, e multidões tendem a alinhar-se como uma única mente.
Gustav Mahler, após ouvir a opéra Salomé de seu maior concorrente, Richard Strauss e percebendo que o público não conseguia captar a magia da obra escreveu. "Se é Arte, não é para todos. E se é para todos não é Arte." Debussy vivendo o mesmo drama de ou ter de fazer coisas banais para agradar o povo ou fazendo Arte de verdade, escreveu ao seu colega Ernest Chausson:
"A música deveria na verdade ser uma ciência hermética, resguardada em textos de decifração tão difícil e trabalhosa que desencoraje o rebanho daqueles que a tratam com a mesma falta de cerimônia que dedicam a um guardanapo! Eu gostaria de ir além e, em vez de difundir a música entre o populacho, proponho a fundação de uma Sociedade do Esoterismo Musical."
Schoenberg já previa o escânlo que seu trabalho causaria na sociedade. Seu Primeiro Quarteto de Cordas é considerada a obra que gerou o maior alvoroço na história da música desde a estréia de a A Sagração da Primavera de Stravinski ao lançamento de Anarchy in UK dos Sex Pistols. "Sinto o calor da revolta erguendo-se mesmo nos espíritos mais delicados e desconfio que mesmo aqueles que até agora acreditaram em mim não aceitarão a necessidade desse desenvolvimento." Naquela apresentação de 1907 houve pessoas que chegaram às vias de fato e a polícia teve que comparecer para atenuar a confusão.
Enquanto houverem corajosos artistas dando a cara para a sociedade bater, a Arte existirá. Sempre haverá tumultos e sempre haverá pesadas críticas, mas o importante é que eles continuem acreditando que aquilo que deve ser feito, tem de ser feito, custe o constrangimento que custar.
Claro que teria Ídol, tirando as nossas verdades, o resto não passa do jogo social, esse, que muitas vezes somos levados a jogar!
ResponderExcluirExcelente!
Cheguei por aqui através do link do Alessandro Martins e gostei muito do conteúdo da página. Parabéns!
ResponderExcluirAmei!
ResponderExcluirAmei!
ResponderExcluir