ARTE - CONCEITO



Um amigo meu entrou num cinema em São Paulo. Estava atrasado, como os paulistanos costumam estar. Para seu azar, não poderia dar a recorrente desculpa do trânsito para não perder o início do filme. Após pagar as entradas, Pipoca, claro. O lanche preferido por 10 em cada 10 espectadores da 7a Arte.
-       Eu gostaria de uma Coca-Cola e uma pipoca.
-       Sua Coca-Cola está aqui. Pipoca não temos.
-       Não tem? Acabou?
-       Não. Aqui não vendemos pipoca.
-       Mas estamos num cinema!
-       Sim eu sei. Este é um cinema conceito. Não vende pipoca.
-       Cinema conceito? Entendi.
Entendeu também porque todos por lá tinham o cabelo espetado e também porque faziam questão de atender de forma blasé. Saiu do estabelecimento, comprou um saco do pipoqueiro da rua e voltou.




Cinema conceito!
A hora que ele me contou não conseguimos segurar o riso. É a típica coisa de paulista, cabeção, cult, concluiu. Comecei até a usar a expressão para tirar sarro dos locais que forçam a barra para ser in.  
A Arte não precisa ser apreciada de maneira anormal, parecendo-se com muitos ocidentais que só por estarem na Índia começam a fazer trejeitos de espiritualizados. A Arte é muito mais uma companheira que nos aponta as belezas do cotidiano do que uma guia espiritual com um objetivo pré-determinado.
Para ilustrar melhor o que estou dizendo, voltemos a primeira expressão estética do ser humano que provavelmente foram duas ou três pontas de flecha encontradas por  arqueólogos que tinham a forma de amêndoas usadas no período da Idade da Pedra. Eram decoradas com um desenho de folhas que se assemelham a folhas de louro.  Sim, além de empregar semanas de trabalho para esculpir uma lâmina, ou seja, um objeto útil, gastou-se dias e dias para decorá-la com um enfeite, mesmo sabendo que aquilo se perderia no primiero ataque à caça. É este toque final, a cereja na ponta do bolo, que apesar de desnecessária, é essencial a harmonia da nossa vida, o que  melhor representa a verdadeira Arte. Não precisamos de forçações tão presentes neste métier como o Cinema-Conceito.  





Comentários

  1. Oi Daniel.
    Por uma acaso você já foi nesse cinema? Eu sei de que sala você está falando.
    A primeira impressão que tive ao saber dele foi igual a sua.
    Mas tente experimentar um cinema ao qual você vai assistir ao filme, que não é um blockbuster, e tem a sensação de conforto de um home e o bem-estar de um cinema.
    Este cinema é diferente dos outros.
    E não vou negar que adoro pipoca, pão de queijo, refrigerante e um bom blockbuster.
    Beijo
    Roberta

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