Variações sobre um tema do Amor - Parte II
Onde a fraude começou? Minha mãe tem razão, a New York Library piorou com a informatização. Onde já se viu? Quase não enxergamos mais livros numa das maiores bibliotecas do mundo. Que absurdo! Mas ela continua linda... com esta arquitetura francesa clássica cheia de detalhes e com o pé direito altíssimo que sempre me fascinou. Dizem que Paris é toda assim, deve ser apaixonante. Como o ser humano é influenciável. Que besteira pensar que só porque a cidade é bonita as pessoas ficam mais apaixonadas quando estão por lá. Se isso fosse verdade o que seriam os parisienses? Dependentes do amor? Bullshit!
Deve ter bastante coisa sobre a Idade Média por aqui. Achei. Uhmmm, estes estudos mostram que esta idéia de amor doente, pelo qual devemos fazer qualquer coisa, foi criada para ampliar o poder que os Senhores dos castelos tinham sobre seus cavalheiros. Agora entendo porque chamam os “bons amantes” de cavalheiros, afinal foi justamente por causa deles que a farsa começou a ser contada.
Durante o século XII a sociedade perdeu a ordem, começaram a surgir tumultos de todos os lados. Os cavalheiros – protetores das fortalezas e subjugadores do povo – passaram a disputar entre si os favores do Senhor do castelo. Naquela época, apenas o primogênito casava-se e constituía família, aos demais restava apenas agradar ao chefe. Por isto, deflagrou-se uma permanente rivalidade, os mais novos competiam com os mais velhos, cada qual esforçava-se para eclipsar os outros, denegrindo-os, deferindo-lhes golpes baixos em cada ocasião. Nada podia detê-los, eram bem armados, violentos e invejavam os que possuíam esposas. Naturalmente a idéia de rapto e agressão começou a povoar seus imaginários. A sociedade tornou-se perigosa, pois cada um agia conforme a sua vontade e não respeitando regra alguma.
A solução que os Senhores dos castelos acharam para deter o ímpeto destrutivo de seus cavalheiros foi colocar as damas da sociedade como prêmio àqueles que seguissem estritamente rigorosos códigos de conduta. Não era o que eles queriam? Na França, elaboraram textos que explicitavam claramente quais regras os cavalheiros deveriam seguir para tornarem-se dignos de uma dama. Esses filhos da #$%#$*!! Sempre usando-nos em benefício próprio. Deveriam ser presos. Por sorte, Napoleão derrubou esse sistema idiota. Olha isto: o cavalheiro que desejasse se destacar precisaria sofrer por amor e ser capaz de qualquer sacrifício para completar-se e aumentar seu valor. Ele não desejava necessariamente a esposa, mas reconhecimento. Suas atitudes eram tidas como exemplo e, por consequência premeditada pelos Senhores, reforçavam a moral vassálica. Praticavam submissão, fidelidade, esquecimento de si e desejo do bem do outro mais que o seu próprio. O que mais poderia querer um líder oligárquico de seus seguidores?
Os Senhores chegavam a colocar suas esposas como isca no centro da competição. Aposto que faziam isto porque sabiam que não havia relação entre este tipo de amor e o sexo. Nada funcionaria tão bem a um sistema que estava fragilizado pela falta de regras. Agora todos desejavam a dama e por ela comportar-se-iam de maneira cortês. Pois foi esta atitude de sofrer pela conquista da paixão que deu origem ao amor romântico, onde a essência é considerar o objeto amado imensamente precioso e muito difícil de conquistar.
Eu sempre suspeitei disto tudo, este desejo de paixão vem mais de fora do que de dentro de mim. É uma coisa que a educação impõe e não o que realmente sinto. A lei da oferta e da procura é muito mais real que a da paixão. Nunca saiu da minha cabeça aquela frase do Russel: “A crença do valor imenso da mulher é efeito psicológico da dificuldade de conquistá-la, e creio que se pode afirmar que quando um homem não tem dificuldade de alcançar uma mulher, seu sentimento por ela não assume a forma de amor romântico.”
Ainda não sei bem o que fazer com este material. Talvez eu publique no meu blog, mas poderia fazer algo maior. Acho que as pessoas seriam mais felizes se fossem esclarecidas destas mentiras. Ahhh meu trabalho. Já estou atrasada. Não vai dar nem para comer um docinho antes de encarar aquela papelada.
- Dominique tudo bem?
- O que houve Marie? Você está incomodada com alguma coisa?
- Na verdade não, mas estou com algumas coisas entaladas.
- Bom, amiga é para essas coisas, desabafa.
- Não sei como dizer. Você sabe, eu nunca fui muito sensível para coisas de namoro, mas desde que o Brian me deixou eu tenho sentido uma falta irreparável dele.
- Isto é assim com todo mundo.
- Mas por que?
- Eu já pensei bastante sobre isto também. Acho que é porque nós vivemos projetando nossa felicidade para o futuro ou passado. Perdemos o momento presente e depois sentimos falta do que poderiamos ter vivido intensamente ao lado da pessoa amada e não vivemos.
- É. Pode ser. Nunca havia pensado nisto. O que acho estranho é que junto com a saudade que sinto por ele, cresce em mim uma descrença no amor. Cheguei a ir na Biblioteca pesquisar sobre isto.
- Sobre o que? Pesquisar sobre o amor? hahahah. Como um trabalho de colégio? Só você mesmo.
- E o pior é que fiz descobertas interessantes. Achei provas históricas que o amor não existe. É sério! Ele foi inventado para regular a sociedade que estava anárquica durante a Idade Média . A mentira do amor trouxe como conseqüência esta estúpida carência de alguém ao nosso lado. Tal como os publicitários que criaram em nós a “necessidade” de termos um carro, apenas para eles ganharem mais dinheiro.
- Me diga amiga, o que você descobriu por lá?
- ... esta atitude de sofrer pela conquista do desejo que deu origem ao amor romântico, onde a essência é considerar o objeto amado imensamente precioso e muito difícil de conquistar.
- Marie sinto lhe informar, mas sua pesquisa foi bem tendenciosa.
- Tendenciosa? Como assim? A história é uma só.
- Sim, só que existe a sua História, a minha História e a História verdadeira. Se você fuçar um pouco mais vai descobrir que nesta mesma época, século XII, surgiu um grupo de amantes incondicionais chamados de Trovadores. Eu sei destas coisas porque namorei um professor da Columbia que adorava me contar sobre eles.
- Trovadores? Já ouvi falar nesses caras, sim. São aqueles sujeitos esquisitos que cantavam com umas flautinhas. Tipo o Robin Ruela do Monty Python. hahahaha.
- Sim pois esses “caras das flautinhas” que você está ridicularizando, mudaram o mundo com a propagação do amor. Antes eram as famílias que determinavam com quem seus filhos casariam. O amor era algo impessoal, tal como o amor cristão – Ágape que reza: “Ame ao outro como a si mesmo” não importa quem seja a outra pessoa, é preciso amá-la. Mas o amor que surge da troca de olhar da tradição trovadesca é puramente pessoal.
- Determinarem com quem os filhos vão casar ainda é comum em alguns países. Deve ser desolador.
- O amor dos trovadores transcendia as leis do Estado e da Igreja, era perigoso por ser uma heresia, mais que isto, um adultério que poderia ser punido com a morte.
- Imagina se alguém iria arriscar a vida pelo amor?
- O que? Até mesmo os cavalheiros que você pesquisou arriscavam, mesmo sabendo que não iriam se casar. Vou dar um Google para te mostrar uma letra de canção trovadesca.
“Pelos olhos, o amor chega ao coração, pois os olhos são o guias do coração. Os olhos procuram o que o coração gostaria de possuir. E quando estão de pleno acordo e os três estão em harmonia nasce o perfeito amor, que brota do que os olhos tornaram bem-vindos ao coração. Os verdadeiros amantes sabem: o amor é a perfeita bondade, que nasce sem dúvida do coração e dos olhos”.
- Marie, com os trovadores a coragem de amar tornou-se a coragem de se colocar contra a tradição e não de apoiá-la como você disse. Eles passaram a contestar o que diziam ser o certo para usar o conhecimento que vem da própria experiência. A descoberta do amor deu ao homem ocidental a importância de sua individualidade e o possibilitou lutar contra um sistema monolítico que o oprimia.
- Para mim isto é conto de fadas, não é o que vejo. A realidade são as pessoas sofrendo por amor o tempo todo.
- O amor é a sensação que aquece a vida. Quanto mais forte o amor maior a dor, mas o amor suporta tudo. A doença do amor nenhum médico pode curar, pois a mesma criatura que causou é a única que pode tratar. E a cura vem do coração, o órgão de abertura para a outra pessoa.
- Sei
- Você já leu Trsitão e Isolda? A primeira história do amor como o conhecemos nos dias de hoje?
Deve ter bastante coisa sobre a Idade Média por aqui. Achei. Uhmmm, estes estudos mostram que esta idéia de amor doente, pelo qual devemos fazer qualquer coisa, foi criada para ampliar o poder que os Senhores dos castelos tinham sobre seus cavalheiros. Agora entendo porque chamam os “bons amantes” de cavalheiros, afinal foi justamente por causa deles que a farsa começou a ser contada.
Durante o século XII a sociedade perdeu a ordem, começaram a surgir tumultos de todos os lados. Os cavalheiros – protetores das fortalezas e subjugadores do povo – passaram a disputar entre si os favores do Senhor do castelo. Naquela época, apenas o primogênito casava-se e constituía família, aos demais restava apenas agradar ao chefe. Por isto, deflagrou-se uma permanente rivalidade, os mais novos competiam com os mais velhos, cada qual esforçava-se para eclipsar os outros, denegrindo-os, deferindo-lhes golpes baixos em cada ocasião. Nada podia detê-los, eram bem armados, violentos e invejavam os que possuíam esposas. Naturalmente a idéia de rapto e agressão começou a povoar seus imaginários. A sociedade tornou-se perigosa, pois cada um agia conforme a sua vontade e não respeitando regra alguma.
A solução que os Senhores dos castelos acharam para deter o ímpeto destrutivo de seus cavalheiros foi colocar as damas da sociedade como prêmio àqueles que seguissem estritamente rigorosos códigos de conduta. Não era o que eles queriam? Na França, elaboraram textos que explicitavam claramente quais regras os cavalheiros deveriam seguir para tornarem-se dignos de uma dama. Esses filhos da #$%#$*!! Sempre usando-nos em benefício próprio. Deveriam ser presos. Por sorte, Napoleão derrubou esse sistema idiota. Olha isto: o cavalheiro que desejasse se destacar precisaria sofrer por amor e ser capaz de qualquer sacrifício para completar-se e aumentar seu valor. Ele não desejava necessariamente a esposa, mas reconhecimento. Suas atitudes eram tidas como exemplo e, por consequência premeditada pelos Senhores, reforçavam a moral vassálica. Praticavam submissão, fidelidade, esquecimento de si e desejo do bem do outro mais que o seu próprio. O que mais poderia querer um líder oligárquico de seus seguidores?
Os Senhores chegavam a colocar suas esposas como isca no centro da competição. Aposto que faziam isto porque sabiam que não havia relação entre este tipo de amor e o sexo. Nada funcionaria tão bem a um sistema que estava fragilizado pela falta de regras. Agora todos desejavam a dama e por ela comportar-se-iam de maneira cortês. Pois foi esta atitude de sofrer pela conquista da paixão que deu origem ao amor romântico, onde a essência é considerar o objeto amado imensamente precioso e muito difícil de conquistar.
Eu sempre suspeitei disto tudo, este desejo de paixão vem mais de fora do que de dentro de mim. É uma coisa que a educação impõe e não o que realmente sinto. A lei da oferta e da procura é muito mais real que a da paixão. Nunca saiu da minha cabeça aquela frase do Russel: “A crença do valor imenso da mulher é efeito psicológico da dificuldade de conquistá-la, e creio que se pode afirmar que quando um homem não tem dificuldade de alcançar uma mulher, seu sentimento por ela não assume a forma de amor romântico.”
Ainda não sei bem o que fazer com este material. Talvez eu publique no meu blog, mas poderia fazer algo maior. Acho que as pessoas seriam mais felizes se fossem esclarecidas destas mentiras. Ahhh meu trabalho. Já estou atrasada. Não vai dar nem para comer um docinho antes de encarar aquela papelada.
- Dominique tudo bem?
- O que houve Marie? Você está incomodada com alguma coisa?
- Na verdade não, mas estou com algumas coisas entaladas.
- Bom, amiga é para essas coisas, desabafa.
- Não sei como dizer. Você sabe, eu nunca fui muito sensível para coisas de namoro, mas desde que o Brian me deixou eu tenho sentido uma falta irreparável dele.
- Isto é assim com todo mundo.
- Mas por que?
- Eu já pensei bastante sobre isto também. Acho que é porque nós vivemos projetando nossa felicidade para o futuro ou passado. Perdemos o momento presente e depois sentimos falta do que poderiamos ter vivido intensamente ao lado da pessoa amada e não vivemos.
- É. Pode ser. Nunca havia pensado nisto. O que acho estranho é que junto com a saudade que sinto por ele, cresce em mim uma descrença no amor. Cheguei a ir na Biblioteca pesquisar sobre isto.
- Sobre o que? Pesquisar sobre o amor? hahahah. Como um trabalho de colégio? Só você mesmo.
- E o pior é que fiz descobertas interessantes. Achei provas históricas que o amor não existe. É sério! Ele foi inventado para regular a sociedade que estava anárquica durante a Idade Média . A mentira do amor trouxe como conseqüência esta estúpida carência de alguém ao nosso lado. Tal como os publicitários que criaram em nós a “necessidade” de termos um carro, apenas para eles ganharem mais dinheiro.
- Me diga amiga, o que você descobriu por lá?
- ... esta atitude de sofrer pela conquista do desejo que deu origem ao amor romântico, onde a essência é considerar o objeto amado imensamente precioso e muito difícil de conquistar.
- Marie sinto lhe informar, mas sua pesquisa foi bem tendenciosa.
- Tendenciosa? Como assim? A história é uma só.
- Sim, só que existe a sua História, a minha História e a História verdadeira. Se você fuçar um pouco mais vai descobrir que nesta mesma época, século XII, surgiu um grupo de amantes incondicionais chamados de Trovadores. Eu sei destas coisas porque namorei um professor da Columbia que adorava me contar sobre eles.
- Trovadores? Já ouvi falar nesses caras, sim. São aqueles sujeitos esquisitos que cantavam com umas flautinhas. Tipo o Robin Ruela do Monty Python. hahahaha.
- Sim pois esses “caras das flautinhas” que você está ridicularizando, mudaram o mundo com a propagação do amor. Antes eram as famílias que determinavam com quem seus filhos casariam. O amor era algo impessoal, tal como o amor cristão – Ágape que reza: “Ame ao outro como a si mesmo” não importa quem seja a outra pessoa, é preciso amá-la. Mas o amor que surge da troca de olhar da tradição trovadesca é puramente pessoal.
- Determinarem com quem os filhos vão casar ainda é comum em alguns países. Deve ser desolador.
- O amor dos trovadores transcendia as leis do Estado e da Igreja, era perigoso por ser uma heresia, mais que isto, um adultério que poderia ser punido com a morte.
- Imagina se alguém iria arriscar a vida pelo amor?
- O que? Até mesmo os cavalheiros que você pesquisou arriscavam, mesmo sabendo que não iriam se casar. Vou dar um Google para te mostrar uma letra de canção trovadesca.
“Pelos olhos, o amor chega ao coração, pois os olhos são o guias do coração. Os olhos procuram o que o coração gostaria de possuir. E quando estão de pleno acordo e os três estão em harmonia nasce o perfeito amor, que brota do que os olhos tornaram bem-vindos ao coração. Os verdadeiros amantes sabem: o amor é a perfeita bondade, que nasce sem dúvida do coração e dos olhos”.
- Marie, com os trovadores a coragem de amar tornou-se a coragem de se colocar contra a tradição e não de apoiá-la como você disse. Eles passaram a contestar o que diziam ser o certo para usar o conhecimento que vem da própria experiência. A descoberta do amor deu ao homem ocidental a importância de sua individualidade e o possibilitou lutar contra um sistema monolítico que o oprimia.
- Para mim isto é conto de fadas, não é o que vejo. A realidade são as pessoas sofrendo por amor o tempo todo.
- O amor é a sensação que aquece a vida. Quanto mais forte o amor maior a dor, mas o amor suporta tudo. A doença do amor nenhum médico pode curar, pois a mesma criatura que causou é a única que pode tratar. E a cura vem do coração, o órgão de abertura para a outra pessoa.
- Sei
- Você já leu Trsitão e Isolda? A primeira história do amor como o conhecemos nos dias de hoje?
Semana que vem continua... menos histórico e mais pessoal!
Estou adorando a história!
ResponderExcluirEstas se saindo muito bem na primeira pessoa “feminina”!
Devo concordar contigo que esta visão feminina esta bem próxima da realidade, ainda que um tanto “mulherzinha” de mais para o meu gosto, hehe!!
O embasamento histórico esta incrível, imagino o trabalhão e ao mesmo tempo o prazer que te deu para escrever. Cheguei quase a acreditar na fraude do amor!
Estou curiosa para saber como será o final desta história e conhecer a tua visão pessoal...
Por hora, parabéns! Escreves lindamente!
Ps. Depois podemos conversar sobre o meu ponto de vista sobre o amor, ou sobre as tuas lesões, como você preferir! hehe!
booooriiiing!
ResponderExcluirEu acho legal as pessoas se manifestarem. Esses dias um cara escreveu "rapaz vc escreve bem, mas esse blog é chato para cacete." Achei interessante, sei que posso deletar o comentário mas deixei, pois mesmo achando chato ele leu.
ResponderExcluir"Eu não sei qual o segredo do sucesso, mas o segredo do fracasso é tentar agradar a todo mundo." Diz esta emblemática frase do comediante americano Bill Cosby
Vivi obrigado pelo incentivo.
Bjs
Percebi que a teoria dos cavalheiros não é invencionisse! Aliás, percebo que vais a fundo nas coisas que escreves!
ResponderExcluirTenho as minhas teorias referentes ao amor bem diferentes destas e, no entanto, a gente quase se convence da fraude do amor diante de teorias sócio/culturais como esta!
Mas garanto que você também foi atrás de histórias/teorias que provam o contrario, não é?! Não que eu espere um final feliz, mas fica este meu desejo para o desfecho da historia!!
Bjo.
Gostei... vou adicionar o seu blogue no meu!... beijos
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