Ele descobriu... Era ela.

Ele descobriu... Era ela.

Ela que tornava seu sofrimento interminável, fazendo-o achar que a perfeição acontecia somente depois que se revelava. Por estar sempre tão envolvido com sua amada, perdera tudo o que verdadeiramente acontecera desde que a conheceu. O que eles tinham deixado para trás ainda permanecia claro, vivo, quase concreto. Pensava sempre ter vivido um passado irreparável, que se fora sem a presença de sua alma. Mesmo apaixonado pelas lembranças que trazia, sem ela, ele poderia viver no presente, talvez fosse feliz e certamente teria mais contato com a vida real. Ela o tirava disto, levava-o para um mundo de imaginação, onde poderia montar qualquer coisa, criar paisagens e personagens. Ela também o afastava de seus amigos, pois ele preferia não ter ninguém por perto para atrapalhar.

Lembrou-se de quando a conhecera, dos primeiros toques, da sensação de seu corpo, dos seus sons e do seu cheiro. A cada dia ele desejava saber mais a seu respeito, dedicou-se tanto que ficou bom e o resultado do que faziam juntos era a maior prova disto. Ela não era fácil, era cheia de mistérios que o apaixonaram.

Talvez fosse complicado tirá-la completamente de sua vida. Mas pesando nos prós e nos contras, se conseguisse, sairia ganhando. Não suportava mais ver o mundo somente sob sua ótica. Queria viver algo seu, intenso e real, tal como as outras pessoas. Não podia mais com um passado estático, em cima do qual ele seguidamente criava uma realidade que de fato não acontecera quando ele estava com ela.

Estava decidido, e não teria volta. Só dependia dele. Queria terminar de vez, sem chances de voltar, mesmo que a vontade viesse, e ele sabia que ela viria. Mas com a determinação de quem sabe o que quer, sozinho, pegou sua máquina fotográfica e jogou no rio...