POLICA - Nash nos mercados
Eu estava achando estranho o fato de eu ainda não ter me manifestado sobre essa crise que assola o mundo. O motivo talvez tenha sido porque ainda não havia visto luz alguma no fim do túnel. Não consigo aceitar o que quase todos os economistas estão dizendo "teremos que esperar pelo menos um ano e meio para a coisa melhorar". Esperar??? Não, não vejo as coisas melhorarem quando só espero, eu estou esperando perder peso há uns três anos, mas sei que isso só vai mudar quando eu agir e começar a comer menos...
Um conceito exposto inúmeras vezes nesse blog é que uma instituição é um espelho das atitudes das pessoas que dela participam, refletindo seus defeitos e qualidades, trazendo à tona tanto suas virtudes quanto seus vícios. Numa média ponderada que atribui mais peso aos líderes, mas que recebe influência de todos os indivíduos que dela fazem parte.
Os problemas que geraram os desastres econômicos que estamos presenciando tiveram início na economia americana e posteriormente se espalharam para o mundo. Por tanto, há algo no comportamento das pessoas daqui (i'm in NYC now) que está prejudicando a todos - a atitude americana de gastar mais do que se tem. Este tipo de conduta construiu nada menos que, apenas com a dívida interna, um montante – e põe montante nisso - de U$5,5 trilhões, quase 6X o PIB do Brasil. Por conseqüência seu governo também gasta mais do que tem e os riscos de gastos elevados para uma nação foram explicitamente expostos no artigo Pão e Circo.
Crises acontecem com pessoas e por isso também sempre acontecerão com empresas e governos. Não são necessariamente ruins, pois trazem consigo a oportunidade de consertarmos aquilo que não estamos fazendo da melhor forma. Os americanos tem agora a chance de aprender a controlar melhor suas contas para não terem que pagar mais caro depois.
Os Estados Unidos só saíram da crise de 29 quando entraram na II Guerra Mundial, fomentando desta maneira seu desenvolvimento. Na época o paradigma econômico que reinava era que a riqueza do mundo era como um bolo, do qual quem pegasse a maior parte sairia mais rico. Tal como expôs Adam Smith em Riqueza das Nações, "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio auto-interesse".
Os tempos mudaram muito de lá para cá, e hoje guerra não significa mais desenvolvimento econômico, pois conforme falado no artigo acima citado “Bush assumiu sua gestão com as contas públicas equilibradas, hoje (texto de fevereiro de 2008) o déficit americano já está na casa dos 400 bilhões de dólares. O presidente da guerra gastou somente com a desnecessária Guerra do Iraque 320 bilhões de dólares por ano triplicando os gastos bélicos que teve o governo de Clinton. A conta está sendo paga agora com as drásticas quedas das bolsas de valores americanas. O fato inegável é que gastos desmedidos uma hora aparecem e normalmente quem paga por eles é a sociedade.”
Mesmo sem grandes guerras desde 1945, o PIB mundial passou de U$ 2 trilhões em 1967, para U$48 trilhões em 2006.
Mas que fermento é esse que fez a riqueza do mundo se multiplicar 24 vezes em 40 anos?
Quem descobriu a fórmula do crescimento sem prejuízo para um dos lados foi o matemático americanos Jonh Nash, que ficou conhecido pelo grande público depois de ter sua biografia Uma mente brilhante transformada em filme de mesmo nome que ganhou o Oscar de melhor película em 2002. Nash provou, através de cálculos avançadíssimos, que em situações de disputa, se abrirmos mão de interesses exclusivamente próprios, podemos chegar a um resultado melhor para todas as partes.
No filme, Jonh tem esse insight no momento em que jogava snooker com seus amigos e todos queriam ficar com a mesma menina, apesar de terem outras tão belas quanto a desejada esperando pelos rapazes. Concluiu que se todos fossem em cima da mesma acabariam não tendo sucesso, mas se abrissem mão do ganho unicamente particular e combinassem em conjunto todos saíram acompanhados. O sucesso de situações em que abrimos mão de um pouco para somar melhores resultados no todo é um tema bastante discutido na área favorita de Nash, a teoria dos jogos, na qual conseguimos entender através de problemas como o dilema do prisioneiro essa estrutura desse pensamento.
Truman adotara esse tipo de postura na implementação do Plano Marshal em 1947 para o desenvolvimento da Europa pós-guerra. Mesmo os Estados Unidos tendo sido o principal financiador do projeto, com o desenvolvimento da Europa, perderam participação do mercado mundial, mas ganharam em números absolutos pois, o PIB cresceu como um todo.
Para José César Fernandes, um dos fundadores de bancos como o Garantia e Pactual, a saída para a atual crise, dentro dessa linha de pensamento ganha-ganha, é a impressão maior de moedas em todos os bancos centrais. Na sua visão, os governos precisam esquecer momentaneamente de Friedman, pois o maior problema da atualidade está sendo a retirada de dinheiro dos bancos pelos aposentados que têm medo de perder todas as suas economias. Como o dinheiro numa instituição financeira se multiplica por 25, a liquidez está secando e a hora é de se arriscar a ter um pouco de inflação do que ter que enfrentar uma recessão. O plano atual dos EUA que emitiu U$700 bilhões em C-Bonds - que daqui a 30 anos quando a dvída vence terão se transformado em U$1 trilhão - terá que ser pago pelos contribuientes e beneficiou apenas as empresas que estavam a beira da falência. Colocar mais moedas no mercado traria benefícios para empresas, que fizeram as coisas certas, contribuintes e governo e ainda motivaria os aposentados a retornarem seu dinheiro para os bancos.
A saída para a recessão que está por vir é por aí. Ações conjuntas de bancos centrais mundiais apoiando o desenvolvimento das pessoas e conseqüentemente das empresas. Sempre com a consciência de que para se fazer riqueza é preciso compartilhamento, abrir mão de egoísmos que ambiciona o ganho no curto prazo para se ter muito mais no longo. Não estamos mais lutando por algo limitado, pois a riqueza assim como a criatividade e a inteligência não tem limites, ela só precisa dos estímulos certos para crescer.
Os economistas devem tomar cuidado ao dizer que a crise pode ser solucionada com a impressão de moedas pelos bancos centrais; porque um fabrico artificial de moeda, ou poderíamos dizer 'uma moeda manufaturada' pode ser danoso para a economia. "As possibilidades econômicas desta descoberta segundo o qual a moeda - e o capital no sentido monetário da palavra - são suscetíveis de ser fabricadas à vontade. Aí está uma descoberta sensacional e que tentação! E, para nós, quanta luz! É pela sua lentidão, divertido seria dizer por não arrancar ao sinal verde, que a pesada moeda metálica cria, desde a alvorada da vida econômica, o ofício necessário de banqueiro. Este é o homem que conserta, ou tenta consertar, o motor avariado." (Braudel) Essa seria uma boa descrição para o cargo ocupado pelo Bernanke....
ResponderExcluirA idéia não é permanecer com a produção de moedas, mas fazê-lo até que os aposentados que tiraram o dinheiro do mercado, por medo de um crash geral, voltem a ter confiança e depositem suas economias nos bancos novamente.
ResponderExcluirTmb sou contra gastos governamentais, mas o q fazer em situação de emergência. Aceitar a depressão como em 29?