Emoções além do bem o do mal

Já expusemos diversas vezes no blog (http://www.assimfaloudenardi.com/2007/07/filosofia-contradio-seja-bem-vinda.html e http://www.assimfaloudenardi.com/2007/03/vingana-de-cndido.html), a importância da transcendência dos conceitos de certo e errado, bem e mal, puro e impuro para a nossa evolução pessoal. A própria Bíblia expõe isso no Gênesis capítulo II, versículos 16 e 17 atribuindo a Deus as seguintes palavras: “De toda Arvore do Jardim comerás. Mas da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal não Comerás.” Essa ciência do bem e do mal é justamente o julgamento, que tanto prejudica nossa tolerância e nosso crescimento.

Quando pensamos em julgamento, sempre nos vem à cabeça uma interpretação limitada que leva em conta apenas a parte racional deste conceito. As próprias leis humanas foram elaboradas com fundamentos intelectuais, “se você cometer esta imprudência terá como conseqüência aquela punição.” O julgamento racional feito o tempo todo por nós é bastante aparente e facilmente percebido, mas como já foi demonstrado ele é sempre parcial, levando em conta apenas uma das partes num curto período de tempo. Se desejarmos expandir nossa consciência, temos a necessidade de transcendê-lo, afinal foi justamente o conceito de bem e mal que expulsou o homem do paraíso onde ele vivia com plenitude e podia tudo o que queria.

Muito embora não seja notada, esta mesma parcialidade, que prejudica a evolução do homem, está presente no nível emocional. As relações humanas são baseadas em parcialidades, “eu só gosto de quem gosta de mim.” Isso faz com que nosso emocional adote uma postura egoísta, na qual sempre esperará o afago para depois retribuir. Fechamos-nos num circuito de toma lá da cá não deixando que sentimentos superiores surjam espontaneamente, pois estamos sempre à espera de uma iniciativa vinda de outra pessoa. Assim, reprimimos estas sensações até que elas se atrofiem e nunca mais apareçam.

Mas como sentimentos maiores serão despertados se dependemos de outras pessoas que também tem o condicionamento de só dar quando recebem?
Uma atitude emocional egoísta limita o alcance de emoções superiores como o amor, a compaixão, o carinho e outras, deixando-as aparecer somente quando forem despertadas pelas pessoas com quem convivemos. Se estas não apresentarem este tipo de emoções para conosco, elas jamais brotarão. Como diz a música dos Beatles The end, que traduz o tipo de atitude emocional da maior parte dos seres humanos “And in the end/The love you take, is equal to/The love you make” ("E no fim/O amor que você recebe, é igual ao/Amor que você faz"). Que infelicidade deixar nas mãos ou no coração de outra pessoa o limiar de emoção que podemos atingir.

Se conseguíssemos viver essas emoções sem esperar correspondência, elas só cresceriam dentro de nós, assim como crescem os músculos que são mais exercitados. E já que estamos em uma onda musical, pois a música tanto mexe com nossas emoções, melhor seguirmos os passos de um dos maiores cantores brasileiros, Djavan em Cordilheira quando ele expõe:
“Te quero. Mesmo pra te dar sem ter retorno.”

Quando menos vincularmos nossas manifestações emocionais ao recebimento de outras pessoas ou a situações cotidianas, mais estaremos livres para viver tudo o que de melhor o mundo possui. A expressão mais constante de emoções superiores representa uma consciência mais expandida, isto porque, demonstramos tolerância, sabendo que nem todos têm que sentir igualmente, manifestaremos este tipo de sentimentos mesmo sabendo que eles podem não retornar. Isso não é estupidez, mas desenvolvimento de maturidade emocional e um saudável exercício para a ampliação do que melhor podemos sentir. Seremos com isso mais generosos com as pessoas e principalmente conosco mesmo, no fundo quem mais sai ganhando é aquele que dá sem esperar retorno. Agora parafraseando os Beatles numa diferente visão, de um emocional emancipado pode mos dizer “E no fim/O amor que você recebe (DE VOCÊ MESMO), é igual ao/Amor que você faz (NO MUNDO).”

Comentários

  1. É isso ai...
    Como podemos respeitar uma outra pessoa, se nem respeitamos a nós mesmos.

    Como podemos ajudar alguêm se não ajudamos a nós mesmos.

    Como podemos dar amor a alguêm se não damos a nós mesmos, qual será a qualidade desse amor?

    Se pararmos para pensarmos ou melhor observarmos, chega ser até estranho querer dar algo que as vezes nem estamos cultivando a nós mesmos.
    Talvez o ato de nos amarmos, já automaticamente se torna uma ação de amor ao proximo, sem esperar nada em troca, mas é necessário uma consciência mais afinada, para termos essa sensibidade né?

    Eu acho que crença, talvez seja a criadora dos julgamentos, pois assim que cremos em algo, automaticamente criamos um julgamento do que for contrário desse algo, desse modo fechando as portas para o respeito, será que o respeito que dizemos ter pelas coisas, são veradeiros, qdo somos crentes no contrário?
    Talvez a ingeunidade de uma criança, seja um respeitar legítimo. Onde tudo vem e passa, como o vento, parece ser algo mais natural.
    Hoje me pergunto esse amor proprio, não pode ser mutavel como as coisas aqui fora, que vai e vem, como o vento, pensamento, pessoas,sentimentos etc.

    Algo é imutavel, esse imutavel será uma consciência superior, onde o amor pode ser um fluxo infinito?

    Desculpe se filosofei demais, mas...

    Abraços.

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  2. André bem interessante esse ponto da crença. Eu nunca havia pensado nisso, mas de fato o mundo era muito mais julgador e perverso quando as religiões eram mais fortes e impunham um padrão de vida rigoroso aos indivíduos.

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  3. É lindo ler um texto com tanta sensibilidade. Ainda mais quando vem de um homem, num blog de muitos textos políticos e "administrativos".

    É bom também um texto como esses para acordar aqueles que não percebem o valor de dar, ou que muitas vezes tem medo de doar-se temendo não ter o retorno esperado. Essa pessoa esquecem que o importante não é o retorno da pessoa mas sim o fato de ter dado amor, carinho e amizade.

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