Pimenta nos olhos brasileiros


Eu estava sentado numa padaria esperando meu tradicional queijo branco com tomate e orégano. Na minha frente, aquelas coisas que sempre há na mesa das lanchonetes, guardanapo, ketchup, mostarda e Tabasco. Tabasco??? Por que Tabasco???


Comecei a lembrar que em quase todos os lugares que vou comer e peço uma pimenta me trazem Tabasco. O Brasil é um país rico em especiarias e possui os mais variados tipos de pimenta, não obstante, a pimenta industrializada que mais consumimos não é feita aqui. Foi então que eu olhei para aquele vidrinho simpático e antes de tocá-lo precipitadamente concluí: com esse nome e layout, só pode ser mexicana. Peguei o frasco e li - Made in USA - só podia...


Não sou contra a disseminação da cultura americana, tampouco contra a importação de produtos de outros países que sejam melhores que os nossos, o que me intriga é porque nós não fazemos isso? Daí você vai me dizer que há várias empresas brasileiras se dando bem lá fora, e o melhor exemplo delas é a AMBEV, que se uniu a uma companhia belga Interbrew, criando a Inbev e que acaba de comprar a Anheuser-Busch por US$ 50 bilhões e se tornar a maior produtora de cerveja do mundo. Não há como negar isso, mas a parte triste é que as empresas brasileiras que se internacionalizam são excessões. Também não há como negar que o que fazemos é 10X menos do que o nosso potencial permite.


A Tabasco definitivamente não é uma pimenta saborosa, mas pela competência de seus gestores, está em quase todas as lanchonetes das principais cidades brasileiras. Nem ao menos temos a opção de escolher outra, é Tabasco e pronto. Nessa padaria havia uma pimentinha brasileira escondida timidamente atrás da máquina de café. E ela me trouxe a imagem do seu dono reclamando que no Brasil é impossível, que o governo não lhe dá benefícios, que o mercado é difícil, blábláblá. Olhei para a Tabasco e vi o americano, também passando por dificuldades, que são inerentes a todo negócio. Imaginei-o visitando investidores, vendendo a idéia que ele poderia ser um trader internacional de... pasmém - PIMENTA. E depois de mostrar seu business plan tantas vezes que era capaz de recitá-lo de cor, consegue convencer alguns gestores de capital que pensar num mercado global deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade. "Se nós conseguirmos exportar, dominaremos o mercado, caso contrário outra companhia entra no nosso país e compra a nossa empresa". O resultado de todas essas visitas a investidores, são as milhões de Tabascos em pé em cima das mesas de restaurantes do mundo todo e a alegria daqueles que acreditaram no empreendedor de pensamento amplo.


A Tabasco é mais um exemplo da falta de expertise dos empresários brasileiros na captação de recursos. Nosso individualismo exacerbado nos faz preferir ser donos de 100% de um negócio que vale R$100.000 e, que pela falta de força fica fadado ao fracasso,do que captar dinheiro de investidores e ter 20% de uma empresa com muita perspectiva de crescer, que vale 1 milhão. Nos acomodamos com nosso mercado interno, que é forte, e que nos faz pensar que se vencermos por aqui, já teremos mais sucesso do que sempre sonhamos. Por último vem o mais grave de todos os defeitos, o complexo de inferiroridade que não nos permite acreditar que podemos atuar e vencer em todas as partes do mundo.

Comentários

  1. realmente tabasco nao tem nada de bom! e coincidentemente acabei de ler um texto tambem sobre pimenta nesse blog http://www.penadevidro.blogspot.com/ , queria deixar o link para voce o visitar.

    um abraco!

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  2. A Veja acaba de dedicar a sua capa a internacionalização das empresas brasileiras.

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  3. Fala Dani,

    Realmente, não dá para o empresário brasileiro querer administrar o seu negócio como se fosse a padaria da esquina... é necessário perceber que a abertura de capital pode potencializar ainda mais a rentabilidade da empresa.

    Abs

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  4. Daniel.. parabéns pelo texto.. muito bom e original!

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  5. E saber que Tabasco é tão pequeno perto do que estamos vivendo, mas agora a pimenta está nos nossos olhos...

    Adorei descobrir seu blog!

    Beijo no ombro!

    Maricota (ex roomate da Baccarina e consumidora de Tabasco)

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  6. Ola Daniel,
    Aqui eh Michel, fui seu colega no Dom Bosco. Estou postando atraves da Id da minha esposa. Concordo com seu ponto de vista, mas vou além para adicionar que muitas empresas brasileiras (de medio e/ou grande porte), sao tambem muito incopetentes no tocante a internacionalizacao. Vivo ha mais de 6 anos no exterior, ja tive a oportunidade de levar um empresario australiano que, cansado da baixa qualidade dos produtios chineses, quis conhecer algumas empresas do setor calcadista brasileiro. Levei-o para visitar 6 empresas no RS. Destas, apenas 2 se ofereceram a enviar amostrar dos calcados via correio, e 1 exigiu que ele pagasse por tais amostras. Para piorar, mesmo com o aceite meio a contra gosto deste empresario, a companhia brasileira ainda levou o tempo absurdo de quase 2 meses para embarcar as amostras que seriam enviadas por aviao (pois nao se tratava de um numero inferior a 100 pares de calcados).
    Fiquei revoltado com a falta de profissionalismo de tais companhias, ainda mais por se tratarem de grandes empresas do setor. Conforme voce mesmo mencionou, o brasileiro prefere se vitimizar à de fato erguer as mangas para crrer atrás do mercado. É uma pena. Um forte abraco.

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  7. Daniel, parabéns pelo texto. Realmente temos muito o que aprender!

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  8. Michel
    É justamente essa falta de visão que eu quis retratar.
    O brasileiro ainda não acordou para o fato de que se não começarmos a externalizar nossos negócios eles serão comprados por quem faz isso bem.
    Obrigado pelo post e sucesso para você.
    Abração

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  9. Parabéns pelo texto. Apenas uma correção: a Ambev se uniu à uma companhia belga e não suiça, chamada Interbrew, criando a Inbev.

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