Recentemente estava numa festa e me deparei com uma situação não tão agradável quanto os petiscos que nos serviam. O rapaz com sotaque gringo já havia feito alguns comentários pejorativos acerca do nosso país, o que me deixou ouriçado e logo que alguém perguntou: “Mas você é o que?”
- Sou francês, burguês e socialista.
Pára, pára, pára... Meu detector de hipocrisias não se conteve ao deparar-se com tantas incoerências numa frase tão curta.
Primeiro francês, morando no Brasil e falando mal do nosso país!
Eu acho engraçado que, quando os brasileiros vão morar fora e descobrem que saíram do melhor lugar do mundo, quando voltam declaram, “eu não agüentei ficar longe do Brasil.” Uma colocação coerente e educada. Mas não são poucos os gringos que cá estão o tempo todo a falar mal da nossa terra. Não me compreenda mal, sou totalmente a favor da maior quantidade possível de estrangeiros por aqui. Acredito que isso só traga benefícios à nossa terra. Entretanto, que estejam aqui por vontade própria, para construir algo e retribuir a oportunidade que o local está lhe dando. Caso não estejam satisfeitos, que procurem outro país ou voltem para o seu.
Depois veio o burguês e socialista.
Na França deve ser bonito dizer que se é socialista, mesmo que nem se saiba direito o que é isso. Eles devem se achar mais in quando pronunciam essa palavra. Talvez a pessoa até se sinta mais inteligente ou parte integrante de um grupinho de intelectuais e artistas que muito reclamaram e pouco fizeram pelas pessoas.
Mas essa pseudo-inteligência uma hora aparece. Não é a toa que os próprios franceses não conseguiram se desenvolver com este tipo de política e desesperadamente elegeram recentemente um presidente liberal para ver se ele consegue ‘salvar a pátria’ de um desastre econômico e social. Se você quer dizer que é socialista, não há problema nisso, mas que então reparta o que possui e não saia por aí sustentando sua posição burguesa.
Eu que já não agüento mais ver o nosso governo tentando ocupar todos os espaços da sociedade, tirando as oportunidades da iniciativa privada e fazendo o que bem entende, perguntei como quem não quer nada.
- Então você é a favor de um estado inflado?
Ele percebeu que estava a frente de alguém que sabe um pouco de política, e não ‘engoliria’ o discurso de que ser socialista é ter coração aberto, ser bonzinho e altruísta.
Mas pra cima de moi?
Vendo-se levemente pressionado o francês proclamou.
- Não. Sou a favor de um estado mínimo. Que dê educação, segurança e saúde às pessoas. SIC
Quanta contradição!
Mais uma vez, nada contra a pessoa ser socialista. No entanto, se você assim se intitula, deve pelo menos saber do que se trata esse sistema político. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que a proposta socialista é a de um governo totalitarista que ocupa todos os campos profissionais. Vide Cuba, Rússia e China. O contrário do que ele desejava.
Se defendo uma posição, tenho que saber o que se trata - e por coerência ideológica, manter minha opinião independentemente de quem me pergunta. Ou então, não digo nada. O que eu desaprovo é o tipo de atitude na qual a pessoa se dizer ora liberal, ora socialista, dependendo do público presente.
Coloquei meu ponto de vista mostrando o quanto eu acredito que a maior presença do Estado em todas as áreas prejudica o desenvolvimento das pessoas e estimula a corrupção. O esnobismo do rapaz veio à tona mais uma vez. “Você é muito convicto. Eu prefiro não ter uma posição tão firme.”
Ah rá! Na hora de se exibir na frente dos amigos ele era socialista, confrontado prefere não ser nada,. Assim é mais fácil mesmo.
Minha adrenalina tinha acabado de baixar e uma amiga minha me chamou para explicar a uma moça, que estava estudando há dois anos para ser professora de yóga (leia yóga aqui) e que, sentada à minha frente, bebia vinho e comia carne, por que o Yôga desaconselhava tais hábitos. Eu estava realmente intolerante nesse dia. Limitei-me a perguntar “Mas você está estudando para ser professora?” Depois de sua resposta afirmativa, me calei, por achar que quem deveria dar esse tipo de explicação era seu professor (que, para o meu estranhamento, ainda não havia falado sobre o assunto). Não há mal em a pessoa praticar Yôga e manter seus hábitos. No entanto, se você deseja se tornar um praticante sério e, principalmente, um profissional que tem como objetivo ensinar às pessoas hábitos mais saudáveis, não pode tomar esse tipo de atitude - é incoerente.
Essas situações de hipocrisia estão presentes o tempo todo em nossa sociedade. O engraçado é que são essas pessoas que mais admiram monges budistas ou yôgis ascetas. Olham para eles com exclamação. “Como eles são completos. Não precisam de nada para serem felizes.”
Realmente não necessitamos de muito para sermos felizes. Um bom começo, a exemplo deles, é ter coerência entre aquilo que pensamos, fazemos e falamos.
Adorei!
ResponderExcluirTentei reconstruir a cena na minha cabeça e dei umas risadas.
Na minha opinião a hipocrisia é o pior dos pecados.
beijos
Rapaz você descreveu muito bem em algumas cenas, uma coisa que de fato, existe em todas as esquinas.
ResponderExcluirFalar uma coisa e fazer outra, discursar isso e aquilo, mas sem saber realmente do que está falando.
Abraços.
É preciso mto descaramento da parte desse senhor...e o pior é q existem como ele mtos e em todos os países...
ResponderExcluirAo ler lembrei-me da nossa frase...
A tua: orgulho de ser brasileiro...
A minha: orgulho de ser português!
Beijinhos
Não vejo nesse discurso nenhum orgulho brasileiro, pois isso é neo-liberalismo puro, a apologia dos EUA, um seguidismo e influência tão tipica no Brasil querido...
ResponderExcluirE em muita coisa na França se vive muito melhor que nos EUA.
Você ainda tem muito que pensar para ter alguma ideia interessante e original sobre politica meu caro.
Mas gosto de te ler...
Duas dessas em uma noite só!? Difícil de engolir...
ResponderExcluirBeijos
Esclareçamos os comentários do leitor anônimo. Talvez ele seja o próprio francês em questão.
ResponderExcluir1. O orgulho de ser brasileiro e a busca por práticas que respeitem nossa cultura aparecem em todos os textos desse blog que falam de política.
2. Claro que em alguns pontos viver na França é melhor que nos EUA. O texto não diz o contrário. Eu mesmo se pudesse escolher moraria em Paris.
3. Não estou procurando novas práticas políticas. Acredito que muita coisa boa já foi pensada, mas não implementada.
Just do it.
Prometido é devido, assim que deixo um pouco de dialéctica para animar a conversa...
ResponderExcluirE eu sou Europeu, centrista, não burguês e não socialista (seja lá o que isso for).
"Primeiro francês, morando no Brasil e falando mal do nosso país!"
Dani: os franceses são conhecidos pelo fenomeno do chauvinismo! Uma especie de presunção e arrogância ao estilo nazi (a França e Alemanha são dois países muito parecidos em muita coisa)que confunde o aparente sentimento de superioridade com um real sentimento de inferioridade.
Assim que nao confundas os gringos todos, assim como não há que confundir os franceses todos. Apesar dos meus preconceitos anti gauleses tenho vindo pouco a pouco a ter muito boas surpresas...
Há uma coisa que tu realmente não viste bem: "quando os brasileiros vão morar fora e descobrem que saíram do melhor lugar do mundo, quando voltam declaram, “eu não agüentei ficar longe do Brasil.” ". Isto realmente não é assim tão verdade. Uma das coisas mais comns no brasileiro é queixar-se e criticar ferozmente o Brasil. Conheço uns quantos brasileiros que estando do lado de cá se queixam e maldizem muito a Europa e passam um tempão a lembrar como o Brasil é que era bom! Assim como conheço alguns que só pensam em não voltar a colocar os pés no Brasil a não ser para ir de férias 1 x de 3 em 3 anos. O mesmo se passa com pessoas de quase todos os lados do mundo. "Os ovos da galinha da vizinha são sempre melhores que os meus". E as saudades também fazem os sentimentios misturar-se e confundir-se. Não leves a mal...
"Qualquer pessoa minimamente informada sabe que a proposta socialista é a de um governo totalitarista"
Neste aspecto tenho de concordar com o comentário do anónimo. Isso é um ponto de vista redutor, radical extremado e absolutamente americanizado. Só lá é que quem defende a existência de saude ou educação publica corre o risco de ser acusado(!) de comunista... Na Europa ser socialista não significa nada disso. Os partidos "socialistas", tais como o que governa actualmente Portugal, Espanha, Itália ou a Grã-bretanha, por exemplo, são partidos pró democracia, moderados, e cada vez mais liberais.Certamente não classificarias a Grã-Bertanha ou a Espanha de países totalitários ou sub desenvolvidos não é? Da mesma forma, se o presidente "liberal" francês estivesse nos EUA seria acusado de ser comunista pelas leis que tenta aprovar. Há que ter noção dos contextos. Este socialismo moderado Europeu nasceu no contexto do pós guerras mundiais, a partir das redes de assitência social criadas para dar suporte vital ás populações nessas condições terrivéis. E no processo acabou por se criar o sistema politico social mais equilibrado do mundo, invejado por todo mundo, e que atrae gente de todo mundo, inclusive MUIIITTTTOOOOSS brasileiros. É um sistema quase perfeito que está equilibrado entre público e privado, capitalismo e socialismo, etc. Este "socialismo" é o termo do meio, um equilibrio instável mas até agora bem conseguido, que não é perfeito mas é sem dúvida o melhor dos imperfeitos.
Estou em pleno acordo com uma bela afirmativa tua:
"Realmente não necessitamos de muito para sermos felizes. Um bom começo, a exemplo deles, é ter coerência ente entre aquilo que pensamos, fazemos e falamos."
Eu tento ser. Mas ainda não sou. Nem sei se isso é possivel, até porque a Vida e as pessoas são por natureza paradoxais. Mas como gostava de ser e não sou (absolutamente coerente) então também não me atrevo a fazer grandes condenações a outros que também não o são. Mais vale rir. principalmente de nós mesmos.
(Bem... passei uma boa temporada na europa em julho e agosto, e voltei correndo para os braços da minha pátria, morrendo de saudades!)
ResponderExcluir...mas esse era o assunto central do post?! Creio que não. Eu acho perfeitamente compreensível o sentimento de patriotismo, tanto brasileiro quanto francês. Porém, falar mal do país em que se reside é realemnte desnecessário e incoerente. Me pergunto: Se não gosta, o que veio fazer aqui?
Deixo minha humilde opinião; precisamos debater o ponto nevrálgico da história: as pessoas precisam começar a se assumir. Sem discurso ou "conhecimento de almanaque". O bacana é conversar com pessoas que têm conteúdo e não precisam te convencer disso.
Grande beijo.
... e viva o Brèsil!