Sempre que fatores externos produzem em nós uma sensação de segurança, reduzindo nossa tensão, relaxamos e passamos a lutar menos por aquilo que acreditamos. “Consta que uma das razões que contribuíram para a queda do Império Romano teria sido a introdução dos banhos quentes como hábito cotidiano, os quais teriam arrefecido a têmpera dos seus, antes, bravos guerreiros.” O perigo deste estado de relaxamento é que ele pode ser usado como forma de manipulação e domínio das pessoas. Como alerta o escritor DeROSE, também autor da citação acima, em seu livro Quando é Preciso Ser Forte. “No Brasil, para domar a fibra dos temíveis índios cinta-larga, do Amazonas, os construtores da estrada Transamazônica usaram... açúcar.” Este mesmo ingrediente serviu de artifício para induzir as crianças e adultos a trabalhar mais na Inglaterra da Era Industrial. Com um pouco do doce prazer, elas reclamavam menos e produziam mais.
Na administração pública, os açúcares são outros. Entendendo como funciona a gastança e o endividamento governamental, chegamos ao principal causador dos problemas sociais. Pois, com muito dinheiro nas mãos, mesmo com uma péssima gestão, o governo poderá mascarar a realidade e aparentar uma fase de prosperidade econômica para que a população pense que está tudo bem e não se revolte contra quem está no poder.
Políticos aproveitadores endividam ao máximo seus governos, pois com dinheiro circulando, gera-se uma aparente sensação de que a economia está crescendo e as pessoas ficam felizes e vulneráveis. É como uma pessoa que ao se sentir infeliz por estar sem dinheiro, ao invés de encarar esta realidade e fazer planos para gastar menos e ganhar mais, vai ao Shopping Center e compra com seu cartão de crédito tudo o que deseja. Muito embora ela possa aparentemente se sentir melhor depois de cometer este ato incoerente, as conseqüências emocionais aparecerão com ainda mais intensidade no mês seguinte quando a fatura vier.
Na administração pública a situação é ainda mais grave, pois muitas vezes a fatura será transferida para o político que o sucederá no cargo. O próximo, jamais aceitará ficar apenas pagando dívidas. Ele também terá que mostrar serviço e para tanto contrairá mais dívidas num ciclo inesgotável que torna os meios públicos os maiores devedores do mundo. No entanto, invariavelmente a bomba estourará em algum momento e alguém terá que pagar a conta. Não há como resolver problemas enfiando-nos mais neles. Existe um ditado que diz: se você está afundando a primeira coisa a fazer é parar de cavar. Daí a importância de se gastar apenas ou até menos do que se arrecada, atitude quase nunca seguida que na política é chamada de equilíbrio fiscal.
Quando um Estado precisa de dinheiro para fazer as coisas acontecerem, a concessão de crédito funciona de maneira diferente de uma pessoa ou de uma empresa. Estas podem falir e caso isto aconteça, terão todos os seus bens confiscados pelo credor como do pagamento da dívida. Sendo assim, só fazemos empréstimos quando é inevitável e quando temos a certeza de que poderemos pagar. Mas para o governo é diferente. Afinal, quem conseguirá decretar a falência de uma cidade ou pior ainda de um país? Que instituição financeira terá coragem de se apossar das máquinas de um hospital público ou dos computadores de uma escola estadual?
Esta proteção permite que o Estado fique devendo para muita gente por muito tempo e mesmo neste cenário consiga crédito para se endividar ainda mais. Vejamos o exemplo brasileiro no qual a dívida líquida total do setor público atingiu R$ 1,150 trilhão, ou 42,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de dezembro 2007, mas apesar disto o governo federal ainda consegue muito dinheiro para suas obras. Hoje, o que nos salva de um desastre é a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que entrou em vigor em 4 de maio de 2000, e por dificultar abusos de gastos públicos, é considerada a uma das mais importantes contribuições do governo FHC. Não obstante, os governantes sempre acham brechas para poder gastar mais do que arrecadam.
Da mesma forma que os relaxados romanos, depois de muitos banhos quentes, foram derrubados pelos bárbaros. Os estadunidenses também estão vendo seu império ruir. E muito têm contribuído para tal, a desastrosa administração republicana de George W. Bush. O maquiado aquecimento da economia que ele produziu, deveu-se quase que exclusivamente a gastos desmedidos do governo Americano. Com isto, os ianques se sentiram seguros, reduziram seu senso crítico e perderam sua tradicional bravura política para lutar contra os absurdos que cometeu este presidente.
Bush assumiu sua gestão com as contas públicas equilibradas, hoje o déficit americano já está na casa dos 400 bilhões de dólares. O presidente da guerra gastou somente com a desnecessária Guerra do Iraque 320 bilhões de dólares por ano triplicando os gastos bélicos que teve o governo de Clinton. A conta está sendo paga agora com as drásticas quedas das bolsas de valores americanas. O fato inegável é que gastos desmedidos uma hora aparecem e normalmente quem paga por eles é a sociedade. Outra evidente demonstração da queda do Império Americano, que foi acelerada pelo desastre administrativo deste governo, não combatido pela sociedade americana, que inclusive o reelegeu (depois são os brasileiros que não sabem votar) é que Bush assumiu a Casa Branca com o Dólar valendo 30% a mais que o Euro e hoje ele vale 50% a menos que a moeda européia.
“No Brasil, para domar a fibra dos temíveis índios...” a estratégia foi outra. Também temos um aparente bom momento econômico e um ilusório equilíbrio fiscal. A estratégia adotada pelo governo Lula para não gerar revoltas frente à corrupta administração do PT foi montada visando atrair muito dinheiro de fora. Para chamar os investidores externos, pagamos os mais altos juros do mercado mundial o que custa anualmente R$ 160 bilhões aos cofres da União. O capital externo vem para cá e aparenta um crescimento da nossa economia. Isto não é ruim, mas o fato é que não há uma substancial elevação de produtividade no Brasil. O que existe é muito dinheiro de fora entrando, mas que pode desaparecer a qualquer momento como aconteceu há pouco tempo atrás com a nossa vizinha Argentina.
Lula anestesiou a população que ficou sem forças para lutar por um governo melhor. Passamos a aceitar passivamente as maiores fraudes já reveladas na política do nosso país. E assim como aconteceu nos Estados Unidos, a aparente segurança fez com que reelegêssemos nosso presidente que pouco investiu em infra-estrutura e que aproveitando esse momento de relaxamento da população gasta de 2 a 3 X mais do que consegue fazer o PIB crescer. Gastos estes que gerarão mais cargos de confiança e consequentemente mais recursos para o seu partido se manter no poder.
Não sejamos ingênuos, não podemos cometer os mesmos erros dos guerreiros romanos ou dos nossos compatriotas cinta-largas. Um espasmo de prazer não pode se refletir em falta de senso crítico e bravura para lutarmos pelo que acreditamos. Olhos abertos e voz ativa para construirmos um Brasil melhor.
É impressionante como em quase todos os países acontece o mesmo, o que me leva a pensar que tudo isto se deve à natureza humana ou ao condicionamento social. A consciente falta de consciência leva a tantos erros... erros esses que a nível pessoal geram sofrimento, mas que a nível social geram a pobreza de espírito e descontentamento de gerações inteiras e sucessivas. O que mais me choca é que parece não haver solução...
ResponderExcluirPorque é que o Homem ainda não aprendeu a lidar com as vicissitudes com naturalidade, e mantém o comportamento neurótico de não enfrentar os problemas, gerando assim mais?
Beijos dani...mto bom o artigo!
P.S.- Adorei esta frase: "Um espasmo de prazer não pode se refletir em falta de senso crítico e bravura para lutarmos pelo que acreditamos." Se todos pensassem e agissem assim, teríamos certamente um mundo melhor!!!!
"Um espasmo de prazer não pode se refletir em falta de senso crítico e bravura para lutarmos pelo que acreditamos."
ResponderExcluirÉ realmente nítida a falta de vontade de melhorar refletida em nosso MEDO. Muitas vezes achamos que já que está bom, "é melhor não reclamar para não perdemos o que já conquistamos"...
Mas não! Certas coisas PRECISAM mudar e não é só porque você se sente confortável com o que tem, que não vai querer o mesmo para os demais... Precisamo aprender a entender que viver em grupo e em sociedade é viver cooperando, dividindo e trazendo sempre novas idéias e novas soluções para os problemas que surgem!
Grande post, Dani!
Um beijo