Ampliando os limites da liberdade



Acabo de ler uma excelente biografia do relacionamento de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir escrita pela competente biografa Hazel Rowley e distribuído no Brasil pela editora Objetiva. O livro conta toda a trajetória do casal desde que se conheceram nos arredores da Sorbonne em 1929 até o momento que se separaram com a morte do escritor em 1980.

Sartre e Simone formavam uma dupla de intelectuais franceses muito influentes no mundo no pós-guerra. Dentro de sua filosofia, o existencialismo, eles acreditavam que o homem nascia livre e que tudo o que acontecia em sua vida dependia única e exclusivamente de suas ações. Não aceitavam que fatores externos pudessem sequer interferir em seus estados emocionais. Daí a famosa frase do filósofo “O Homem está condenado à liberdade.”

O casal teve que rever essa crença quando a II Guerra Mundial explodiu. O próprio Sartre que era totalmente contra a guerra foi recrutado e passou algum tempo em batalha vendo alguns dos seus companheiros morrerem. A partir disto, os dois descobriram algo que os hindus sabem a milhares de anos; que temos domínio de grande parte de nosso destino, que muito podemos fazer para que ele se modifique, masum pedaço dele que não conseguimos mudar. Nesta parte, atuam forças ainda incompreensíveis para os seres humanos.

Mesmo sabendo que jamais alcançariam a liberdade completa, Jean Paul e Simone não passaram a tomar uma atitude passiva perante a vida. Pelo contrário, como almejavam a liberdade plena, fizeram de tudo para conquistar a maior quantidade de livre-arbítrio que estivesse ao seu alcance. Perceberam por exemplo, que decisões governamentais influenciam muito a vida das pessoas e jamais aceitaram as ordens vindas “de cima” de maneira pacata. Sabiam que se desejavam ampliar os limites de suas liberdades, invariavelmente teriam que lutar por causas políticas.

Fizeram muito pelo que acreditavam que seria melhor para eles e para o mundo, e grande vitórias obtiveram. Sartre foi um dos maiores influenciadores da famosa revolta dos estudantes que aconteceu em Paris em 1968 e que bravejava por mais liberdade. Simone, liderou uma grande campanha e conseguindo a legalização do aborto na França. Através dos seus livros e de palestras, a maior escritora de sua época, instigou o movimento feminista no mundo todo.

Não conheço nenhuma pessoa que esteja satisfeita com o governo, no entanto, conheço pouquíssimos corajosos envolvendo-se ativamente para que alguns pontos melhorem na administração pública. Não consigo aceitar os jargõesSempre foi assim no Brasil e sempre será” ouNãonada que se possa fazer para mudar a política.” Não posso admitir essa passividade porque que vi mudanças acontecerem quando nos mobilizamos.

Não podemos aceitar passivamente que o governo tome decisões que prejudiquem nossas vidas e nada fazer . Se pelo menos agirmos e mesmo assim não alcançarmos os resultados esperados, podemos ficar com a consciência tranqüila que isto deve-se a aquela parte do destino que não conseguimos interferir. Se lutarmos pela ampliação da nossa liberdade, isto nos tornará mais livres...

Comentários

  1. Parabéns, seu blog está cada vez melhor.

    Abração,

    Leo Spínola.

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  2. Aqui estou eu outra vez...
    Ainda não li este livro mas vou comprá-lo brevemente. Conheço várias pessoas que o estão a ler neste momento. Assim que acabar, faço mais comentários!
    Mas é engraçado como, embora com outro nome, eles se regeram pelo conceito inconformista do karma, para viverem as suas vidas.

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