Vem da alma o que é perene
Prêman Bhavani nunca imaginou que freqüentaria uma festa tão luxuosa como aquela, talvez o que aquele seu colega inglês gastou nesta noite , daria para alimentar todo o seu estado durante um ano . Tamil Nadu é uma região pobre do sudeste da Índia onde moram os verdadeiros nativos que migraram para lá , há aproximadamente 3500 anos , durante a primeira grande invasão ariana no noroeste do país . Sua cultura foi herdada do povo drávida, a mais brilhante civilização que habitou a Índia . Uma tradição com mais de 5000 anos de conhecimento acumulado, que desenvolveu uma forte base filosófica e um know-how de ampliação do prazer nas atitudes corriqueiras. Claro que muito se perdeu com a travessia de mais de 3000 km que seu s ancestrais fizeram a pé para escapar das maldades cometidas pelo povo sub-bárbaro, e ainda mais pelo passar de todos esses anos .
A aproximação de sua interioridade mantinha Prêman confiante de que estava agindo corretamente ao caminhar em direção a aquela que , no seu ponto de vista , era a moça mais deslumbrante da Universidade . Seu s colegas não conseguiam entender o que ele via de tão magnífico em Amy, mas ele sabia . O jovem escritor vinha melhorando a capacidade de vencer imposições em seu s desejos , deixando de lado as vontades que não eram suas , mas de outras pessoas ou da sociedade , que empurra através da educação formal , uma fórmula de felicidade pré-concebida, dizendo o que é melhor para todos nós . Ele estava ciente do quanto Amy poderia interferir positivamente em sua vida caso tivessem um relacionamento mais profundo .
A cada dia mais , Prêman vinha conseguindo optar por aquilo que realmente seria melhor para ele , permitindo que seu s sentidos internos se manifestassem. Claro que nesse aprendizado , que ele considerava o mais importante da existência humana , havia momentos em que seu ego prevalecia, fazendo parecer que algumas decisões com influências externas fossem suas . Na verdade , quando centrava-se apenas em sua personalidade manifestava egoísmo , seguindo condicionamentos e vontades alheias. Sabia que havia agido de maneira dissonante da consciência , quando suas decisões posteriormente lhe causavam arrependimento ou ansiedade , e por isso tentava seguir sempre o que realmente era melhor para ele e não aquilo que seu s amigos diziam.
Foi essa capacidade de entender estados internos e descrevê-los com precisão cirúrgica que chamou a atenção do grande mecenas Maharajah Sir Manindra Chandra Nandi de Kassimbazaar. O marajá sempre se interessou por obras que relevassem as manifestações mais profundas dos homens e o conseqüente aprimoramento de tais estados . Vinha financiando durante toda a sua vida , intelectuais que propagassem ao mundo a parte filosófica da cultura hindu . Sir Manindra tinha ficado encantado com um conto de Prêman, no qual ele descrevia um pôr-do-sol no rio Ganges repleto de insights e luz . Manindra não conseguia compreender como alguém tão novo realizara uma façanha jamais atingida por outro escritor , traduzir em palavras estados de consciência que estavam muito acima do plano intelectual .
Londres lhe encantava não apenas pela língua , que apesar do seu sotaque era “quase ” a mesma . No seu povoado todos falavam Tamil, língua neo-sânscrita, mas , como em cada parte do seu país se usava uma das 23 línguas oficiais , todos acabavam aprendendo inglês para se comunicar entre si . Prêman queria aprender a cultura ocidental , que conhecia apenas pelos livros , para introduzir nela a profundidade da filosofia dravídica. Mesmo tendo que conviver com os ingleses, que não tinham sido nada elegantes , como desejam que o mundo os veja, no trato com os indianos durante a colonização, Prêman não via a hora de conhecer Londres.
Sabia também que o mundo caminha para um distanciamento dos condicionamentos e uma aproximação da consciência . Aqueles que conseguirem direcionar as pessoas a esse caminho , não apenas as farão mais felizes , mas também serão muito bem-sucedidas. Prêman tem a certeza que nascera para isto e que será um bandeirante dessa ideologia .
Do outro lado do salão estava Amy, estudante de marketing , apaixonada pelo movimento do mercado e que cursava agora uma pós-graduação em economia e administração . Ela era uma moça decidida e talentosa . Aprendera desde muito cedo com seu pai a importância de se relacionar bem com todas as pessoas . Foi esse aprendizado que a possibilitou conhecer Prêman. Apesar de viver em constante conflito , por causa do tipo de educação que recebeu , Amy acreditava nos valores da burguesia inglesa, na qual foi criada . No entanto , ela desejava transmitir às pessoas de maneira mais enfática o carinho que sentia por elas , mas , tinha o receio de ser tachada de uma mulher sem princípios morais , por manifestações demais afetuosas. Por isto , tinha atitudes deliberadas, o que prejudicava imensamente suas sensações mais espontâneas.
Amy gostava bastante do ato sexual , achava que poderia sempre explorá-lo mais , por ter naquele momento a oportunidade de extravasar seu s sentimentos mais puros . Jamais deixou isso transparecer , mesmo aos seu s namorados , que poderiam interpretá-la de maneira errônea. Com o tempo , ela vinha perdendo seu impulso às realizações e ao apetite sexual . Contribui muito para isso , seu primeiro chefe , que deixou bem claro que se ela desejava subir no ambiente corporativo devia comportar-se o mais parecidamente com os homens , pois eram eles que entendiam dos negócios e reprimir desejos amorosos . Atitudes mais femininas, como um zelo sincero pelas pessoas e a obediência à intuição deveriam também ser deixados de lado .
Ficou assustada no dia em que leu num livro de Reich, sobre a couraça da personalidade . Sabia que estava amadurecendo com o resfriamento do seu coração , mas aquilo era normal em quase todos os adultos com que travava contato . No entanto , Amy tinha medo que esse escudo , criado por medo e proteção , impedisse a geração de sublimes emoções , assim como havia acontecido com seu exemplo mais próximo , sua mãe . Quando mais jovem , sempre foi muito ativa e era ela que organizava sua turma de amiguinhas para vender limonada pelas ruas . Essa propensão às vendas lhe motivou a estudar marketing e trabalhar em uma grande empresa .
Amy passou a acreditar que a melhor vida a ser vivida , por uma mulher inglesa, era ao lado de um marido , que certamente ocuparia um cargo mais alto que ela dentro da empresa , e junto com ele ter filhos para poder se ocupar nas horas vagas .
O texto ficou lindo e fora inspirado no próprio Tchaikovsky, falava de um relacionamento homossexual durante a impiedosa ditadura de Stálin. Amy chorou ao lê-lo e sentia medo de gostar de alguém que não correspondesse ao que a sociedade inglesa achava que era certo . Por isso , sempre que uma vontade de se aproximar dele aparecia, ela a reprimia e fazia justamente o oposto . Não atendia ao telefone e não respondia seu s e-mails , também passava a evitá-lo no campus .
Nesses momentos , Prêman vivia o conflito ego versus consciência . O primeiro dizia que ele devia desistir dela e que ela não o merecia. Às vezes , ele agia de maneira mais drástica , deletando seu telefone da agenda e tentando por tudo evitá-la. Mas , quando uma lucidez maior tomava conta de sua consciência , ele conseguia colocar-se no lugar dela e entender profundamente suas atitudes . Sabia que se mantivesse em contato com sua sabedoria interna o que fosse melhor para eles acabaria por acontecer , seja viverem juntos ou crescer ainda mais com o conhecimento adquirido naquela experiência .
Amy não compreendia a atenção demasiada que Prêman a dedicava. Ele chegava ao ponto de sair nas ruas para fazer pesquisas de mercado para embasar os trabalhos da moça . Este tipo de atitude fazia com que ele descesse na sua balança de oferta e demanda , e ela sentia menos desejo em vê-lo. Ao mesmo tempo , achava que se tivesse ao seu lado um homem compreensivo e atencioso seria mais feliz , no entanto , não acreditava que ninguém pudesse manter esse nível de cuidado durante uma relação estável de mais de três anos .
Prêman Bhavani fora criado dentro de uma sociedade matriarcal, na qual as mulheres assumiam prioritariamente os postos de comando . Elas eram vistas como seres superiores e os homens permitiam que esse poder extra que elas possuem os tocasse, estimulando seu desenvolvimento pessoal . Era quase devocional a atenção que ele dedicava a sua amada . Para ele , natural , pois aprendeu com seu pai e seu s tios a agir desta maneira com suas deu sas.
Amy vê Prêman chegar , tenta demonstrar um pouco de desprezo , valorizando sua atenção . Ele está muito emocionado, de uma maneira que ela jamais viu. Até mais que o dia em que ela tocou sua mão para lerem juntos seu romance favorito , e em voz alta Prêman declamou:
"Mas o homem , porque não tem senão uma vida , não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos , de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento ."
Foi lembrando aquele momento e extravasando tudo o que sentiu desde que a conheceu , há oito meses, na biblioteca de Oxford, que ele escreveu o poema , que no meio do salão , na frente de toda a alta sociedade inglesa a entregara.
Vem da sua alma o que é perene .
A desgastante instabilidade não existe, e dá lugar a um deleite de SER e não de ter ou estar .
Estar ao seu lado é travar contato com o que de mais perfeito a natureza conseguiu manifestar .
Amy não sabia como agir diante daquela situação . Sua admiração por ele crescera nos últimos dias e ainda mais depois de ler o poema . Ela olha para o lado e vê que muita gente a observa, isso a deixa constrangida e com vontade de estar frente a frente com ele , mas em outro lugar . A boca macia de Prêman está muito próxima a dela, e embora ela não o ache belo sente vontade de beijá-lo. Seu s pais e colegas lhe assombram a mente , e ela pensa que todos desaprovarão tal atitude . Acha que não pode e não o fará. Volta a olhá-lo e Prêman firmemente lhe diz o quanto eles se realizariam caso se unissem, a vontade de tocá-lo retorna , novamente ela não sabe o que fazer e não faz.
Ah que maravilhoso! Adorei o titulo hehe
ResponderExcluirParabens pelas resenhas críticas do blog, mas também por expor sensibilidade através de um conto como esse.
beijos
May
eu quero saber oq e perene
ResponderExcluirdo Lat. perenne
ResponderExcluiradj. 2 gén.,
que dura muitos anos;
permanente;
que não acaba;
incessante;
ininterrupto;
contínuo;
eterno;