Pelo menos em tese sabemos o que é o American Dream. Ele é reflexo de uma colonização inglesa que chegou para habitar, produzir e prosperar. O ianque gera riqueza, para comprar sua casa e seu carro, a partir do trabalho diligente, baseado na disciplina do dia-a-dia. O sonho se transforma em realidade à medida que eles vão tendo pequenas vitórias diárias que acabam consolidando seus patrimônios.
O Brasil não teve a mesma sorte na sua colonização. Aqui o foco foi a exploração, os portugueses buscavam riquezas fáceis, comportamento que foi repetido em todos os países descobertos pelos povos ibéricos. Portugal e Espanha viveram seus tempos áureos numa época em que, do dia para noite, podia-se descobrir através da navegação, terras com fortunas intermináveis. Ao contrário do que vimos no parágrafo acima, de repente, por vontade “divina”, a vida daqueles que se aventuravam ao mar, poderia mudar drasticamente, caso encontrassem preciosidades em lugares desconhecidos.
No tempo dessas navegações, os corajosos portugueses que se aventurassem às explorações, voltavam para casa reverenciados como ídolos nacionais. Exatamente como acontece quando nossos jogadores de futebol retornam ao Brasil após conquistarem a copa do mundo. Por volta de 1400, os ibéricos já acreditavam que para alcançar seus sonhos, você não precisaria ser competente e desenvolver suas habilidades, bastava que tivesse bastante fé e repentinamente como num passe de mágica, sua vida mudaria. Eu chamo isto de sonho místico.
O sucesso repentino, sem construção, foi bastante reforçado na cultura brasileira. Hoje, nosso povo espera que sua vida mude como feitiçaria, quando ganharmos na sena, ou formos chamados para participar do BBB ou ainda se nos tornarmos jogadores de futebol e formos descobertos por um time europeu que pagará milhões pelo nosso passe.
Durante os 200 primeiros anos de Brasil, nosso país era desprezado pelos portugueses. Roubar pau-brasil ou plantar cana-de-açúcar dava trabalho demais e não compensava o esforço. Para eles, não havia riquezas por aqui, portanto não valeria a pena se perder tempo. Fomos reconhecidos como um lugar merecedor de atenção somente quando a mágica aconteceu, e no início do século XVIII foi descoberto ouro nas Minas Gerais. Aí sim, começamos a nos aproximar do que sempre desejaram os portugueses e espanhóis e que ainda querem os brasileiros, o sucesso repentino. Milagrosamente, peneirando, você acha uma pepita de ouro que possibilitará a compra de tudo o que deseja e o fim do trabalho para o resto da vida.
Infelizmente a crença no sonho místico interfere em nossa forma de agir e pensar. Acreditamos piamente que um presidente com um carisma magnífico conseguirá transformar a nação sem que precisemos fazer nada para isso. Cremos que realizar projetos dependa mais de conhecer pessoas que têm poderes mágicos dentro do mercado e que podem vender qualquer coisa com um único telefonema do que na competência e suor do dia-a-dia. Acreditamos que uma seleção de futebol com jogadores sobrenaturais ganhará a partida simplesmente entrando em campo. Afinal, vemos nas propagandas, eles fazerem o que querem com a bola, nossos heróis usam Nike e Adidas e para essas marcas impossible is nothing. Até mesmo ganhar sem jogar ou enriquecer sem trabalhar.
A pergunta que fica é: Se adotarmos o modelo americano, seremos tão ricos quanto eles? Provavelmente sim, no entanto apesar de os estadunidenses terem mais possibilidade de prosperarem do que nós, devemos aprender também com os defeitos deles. A falência do seu modelo está perfeitamente retratada na realista película ganhadora do Oscar de 1999, Beleza Americana. Este filme é um retrato perfeito de que algo ficou faltando no American Dream.
O psicólogo Abrham Maslow dividiu em ordem de prioridade, cinco classes de necessidades humanas. A partir delas, entendemos que o dinheiro é muito importante, mas que só poderá nos levar até o quarto degrau daquilo que é imprescindível. Com riquezas preencheremos nossas necessidades fisiológicas, poderemos comprar nossa segurança, conseguiremos fazer parte de muitos grupos e sermos estimados neles. No entanto, se a geração de capital não vier acompanhada da busca de uma felicidade verdadeira, jamais chegaremos ao topo da pirâmide de Maslow onde se encontra a realização pessoal. Aceitar somente aquilo que é empurrado pela sociedade de consumo, nos fará viver um drama parecido com o do personagem de Kevin Spacey no filme acima citado, onde ele tinha tudo o que o dinheiro pode comprar, mas apesar disso, seu momento de maior alegria no dia era quando ele se masturbava no chuveiro antes de ir trabalhar, depois disto, era só desgosto.
Adorei querido, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirBeijos com carinho Milena
Oi Dani,
ResponderExcluirFinalmente tive tempo para dedicar aos teus óptimos textos!
Deixa-me fazer uma constatação alternativa...
Os portugueses de 1500 e adiante não procuravam o Brasil e sim a Índia, que aliás estava muitíssimo mais longe. E creio que comparar a viagem marítima para a índia com uma viagem para conquistar a Copa de futebol é no mínimo ligeiro. A empreitada naval de então é comparável à actual viagem a lua! Não só no desafio tecnológico como na coragem que exige como nas repercussões que teve para a vida neste planeta. Desde logo deu inicio ao processo que actualmente se chama de globalização.
Depois repara que também os viajantes espanhóis, holandeses e ingleses tinham perspectivas essencialmente comerciais e depois cientificas para fazer essas viagens. Repara que os EUA só são significativos como país(e nada comparado com o que é hoje) a partir de 1750, quando tinham sido já descobertos 250 anos antes.
Por outro lado estás certo ao reparar que os colonos anglosáxonicos iam para os "eua" trabalhar e construir. Sim, mas isso foi muito mais tarde, e na maioria dos casos nem eram ingleses e sim irlandeses, italianos, franceses, mais tarde chineses, portugueses e todas as demais emigrações que construíram aquilo que a america do norte se tornou já no século xx. De qualquer modo os primeiros grandes impulsos dessas emigrações deveram-se ao mesmo fenómeno que ocorreu com as minas gerais. Era a época da exploração mineira, que nos "eua" foi intensa. E era exploração igualzinha que a dos portgueses no Brasil(que aliás era parte de portugal e não algum sitio de onde se roubava)... Só que para a América do norte emigrou mais gente. Muito mais. E por eles mesmos tomaram a iniciativa de se tornarem independentes (foi preciso uma guerra muito mortifera, contra os teus tão elogiados ingleses), ao contrário do Brasil para onde emigrou muito menos gente, muito mais tarde e que só se tornou país autónomo por iniciativa do próprio rei de Portugal!
Repara ainda que hoje os eua são um país fortemente estatalizado e onde há um nível de liberalismo real mais pequeno que no Brasil que neste momento tem uma situação muito parecida ao inicio do seculo xx estado unidense.
Ou seja, as coisas não são assim tão simples...
Creio que se alguém quer realmente crescer, criar e vencer deve primeiro deixar-se de desculpas e assumir as suas responsabilidades. Confiar em si mesmos assumindo-se como é, até com alguma arrogância e prepotência. Isso sim é mentalidade europeia e estado unidense...
Eu vejo o Brasil com tal força e potencial prestes a realizar-se que não compreendo como os brasileiros gastam tanta energia nesse criticismo agudo contra si mesmos. Mas lá está, isso faz parte do carater típico do Brasil, e há que assumi-lo.
Força aí no teu projecto.
Antonio
ResponderExcluirAdoro seus comentários.
Vc sempre coloca coisas importantes. Mas de uma coisa vc não vai me convencer, nem eu nem nenhum brasileiro de que a colonização de vcs portugueses foi boa. De resto concordo c as colocações.
ABs
O Dani,
ResponderExcluirEu não te tento convencer de nada. Estamos apenas a trocar ideias.
E desde logo jamais tentaria convencer-te que a "nossa" colonização do Brasil foi boa. Por 3 motivos:
1- Se alguém teria legitimidade para falar de colonização seriam apenas e só os descendentes das várias tribus indias (e não os brasileiros, que não existiam enquanto tal), pois eram eles que aí viviam quando europeus de muitas origens começaram aos poucos a apropriar-se do domínio desses territórios.
2- Eu nunca colonizei ninguém. Na realidade, é tanto ou mais provável que os teus antepassados se possam chamar de colonizadores como os meus. E eu não te consideraria um colonizador por extensão.
3- O Brasil nunca foi colonizado! O Brasil, o país, passou a existir a partir de a alguns poucos séculos atrás, quando o Rei de Portugal declarou independência dessa parte do território português (por medo de movimentações politicas do então), fragmentando o território sob mando régio luso até então e fazendo nascer uma nação autónoma aí.
Mas estou certo que "os brasileiros" jamais concordariam com isto...
rsrsrrs
Fantástico, Dani.
ResponderExcluirRealmente, tem tudo a ver com o meu artigo "O alívio imediota".
http://www.ricardomallet.com/news/o-alivio-imediota/
Grato por compartilhar.