Respostas à dúvidas de muitos


No começo do ano de 2007, eu me propus a fazer um curso de redação na USP. Ouvinte, primeira vez dentro de uma universidade e com boa experiência no magistério. Soa até contraditório.

No entanto os maiores mestres são aqueles que sabem ouvir e conseguem entender profundamente o que seu discípulo precisa saber naquele exato momento. Eles não precisam de diplomas ou postos importantes. Sabem acima de tudo escutar, entender e depois aconselhar.

O curso era altamente especulativo, lento, e pouquíssimo pragmático. Passei seis meses e apesar de ser um curso de redação não escrevemos nada. Não agüentei ficar até o final devido a essa postura, que acredito que venha do socialismo, de muito debater, de tudosaber” e de pouco fazer. Sou mais adepto do pragmatismo americano, que põe a mão na massa e que faz acontecer.

Havia me comprometido com o meu grupo a completar um trabalho sobre a captação de trabalho pela internet. Fiquei responsável em fazer um texto sobre a história do trabalho, que foi publicado no blog. Se você ainda não leu, vale a pena ler, pois foi uma pesquisa que me tomou muitos dias e que acredito que tenha ficado boa.

Eu previa que a professora não fosse gostar muito das minhas colocações, pois atitudes liberais e empreendedoras não combinam muito com catedráticos esquerdistas da USP. Mandei o texto para o grupo e não apareci mais na aula.

Vasculhando os posts deste blog esses dias, me deparei com um comentário recheado de indagações escrito pela atenciosa professora Sueli, doutora altamente competente mas, com idéias diferentes das expostas aqui.

Segue abaixo o comentário dela e em seguida a minha resposta que será publicada, pois explica pontos que são dúvidas de muita gente.

Oi DeNardi,
Lendo o trabalho do grupo 7 de LP-I, tive a sensação de que o texto era originário de alguma página na Internet. E de fato, encontrei o seu blog. Há pontos muito polêmicos em seu texto. O principal deles é o da tese de que a era da informação traz iguais oportunidades para todos, visto que a "ferramenta" informação, sendo levada ao status de meios de produção, estaria disponível a todos. Esta é a fonte da tese do trabalho imaterial. que o meio de produção "informação" estaria disponível a todos, acabou a exploração. não consegue "ter" para estar bem aqueles que seriam incompetentes, e mereceriam portanto a condição de despossuídos! Esta tese é recorrente ao longo da História. Cabe analisar as forças produtivas de maneira ampla, global. O que significam os milhões de trabalhadores que entraram para o mercado de trabalho capitalista na China e na Ásia? Em quais condições eles trabalham? Quem fica com o valor que produzem? O que significa a exploração das riquezas minerais na África e em demais países do Sul? O que significa a perda de direitos trabalhistas na Europa, Japão e em países como o Brasil? E a precarização do trabalho: terceirização, informalidade, trabalho parcial, e tantas modalidades "de autonomização" da força de trabalho? Como o tema é muito interessante. E há interpretações variadas do fato. Mas o fato é que nunca houve tanta concentração de riquezas nas mãos de tào poucos. Como explicar isto?
Roseli - 24/7

25 de Julho de 2007 07:17

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Prezada Professora Sueli

Fiquei realmente lisonjeado em ver seu comentário em meu blog e agradeço a sua atenção. Contradições são sempre bem vindas como foi exposto em um texto no próprio blog. Vamos ver se conseguimos responder as principais questões expostas por você. Comecemos respondendo a última, no entanto a mais importante pergunta.

Você acha mesmo que a concentração de poder ou dinheiro nunca esteve tão mal distribuída?

Isso é um jargão, muito utilizado pela esquerda socialista para fazer média com o grosso da população que não possui muitos bens. É bonito de se falar, soa humanitário, mas não é verdade.

que estamos falando de esquerda socialista, vamos ao país que adotou até bem pouco tempo essa forma de administrar o governo e que tanto nos influenciou política e culturalmente, a França.

Você acredita que a França de Sarkozy tem em seu governo menos distribuição de renda ou poder do que tinha o mesmo país quando era governado por Luis XIV, XV ou XVI?

Mesmo depois, com Napoleão quando “o povo” tomou o poder, havia uma diferença na distribuição de renda muito maior do quehoje. A própria África, citada como exemplos por você, certamente sofria mais atrocidades na época em que os nossos colonizadores habitavam o seu litoral. Os Estados Unidos que não nasceu rico, mas gerou sua prosperidade a partir de seu próprio mérito também melhora a cada dia sua distribuição de renda conforme nos diz o texto de Peter Drucker em seu livro Administração, Tarefas, Responsabilidades e Práticas ``Nos Estados Unidos da década de 1990 , nenhum homem de negócios se compara em poder ou visão aos magnatas de 1900, tais como J.P. Morgan, John D. Rockefeller ou Henry Ford (um pouco mais tarde). Muito pouca gente hoje em dia sabe sequer o nome dos presidentes e principais diretores das maiores empresas norte-americanas; no entanto, os nomes daqueles antigos magnatas eram conhecido de todos. Nem mesmo as maiores empresas de hoje em dia podem comparar-se em poder político e nem mesmo em poder econômico com aqueles magnatas, que podiam colocar o próprio governo americano em xeque.``

Embora a esquerda custe em admitir isto, são as empresas que fazem a riqueza crescer e que aumentam a distribuição de renda. O empreendedorismo dá a todos a possibilidade de montar o próprio negócio e com isso prosperar se tiver competência.

Graças ao capitalismo o mundo é hoje mais igualitário e livre. Nãocomo negar isso.

Ou você preferiria viver na Rússia de Stálin ou mesmo na atual ditadura disfarçada de Putin?

Vamos responder agora na ordem as suas perguntas

  1. “O que significam os milhões de trabalhadores que entraram para o mercado de trabalho capitalista na China e na Ásia?”

Se eu tivesse que responder essa pergunta em uma palavra eu diria oportunidade. Agora se você me perguntar se eu acho certo ou humano a forma como um país começa a prosperar eu direi que não.

No entanto, é parte do processo. As mesmas condições que enfrentam atualmente os lugares mencionados, enfrentava a Inglaterra de Charlens Dickens e de seu famoso menino Oliver Twist, como podemos verificar nos seus livros. Para se gerar riquezas é necessário que aja certo esforço inicial, infelizmente é preciso sacrificar-se para depois colher os frutos da construção de um país próspero, assim como aconteceu com os Ingleses.

É a liberdade do mercado que tem mais condições de gerar riqueza, é o poder nas mãos das pessoas. O Estado se mostrou ineficiente para tal objetivo. Um bom exemplo de que o governo não é capaz de gerar desenvolvimento é a capital brasileira. Brasília tem um potencial econômico enorme devido à grande quantidade de dinheiro que circula por . Entretanto ao passearmos pela cidade vemos que ela ainda se parece muito com o projeto de Juscelino Kubitschek. Se desconsiderarmos os trabalhos que são motivados pelo poder público muito pouco se gerou de empregos fora disso ao longo desses anos. Nem precisamos mencionar Cuba ou a Rússia.

  1. Em quais condições eles trabalham?”

Acho que parte dessa pergunta foi respondida acima. No entanto, vale lembrar que quando que a pessoa ganha mais status e renda no seu trabalho, ela não aceita determinado tipo de labor. Passando para que outra faça. É natural que isso ocorra também com a mão-de-obra necessária para os países. Assim que os Chineses forem gerando mais riquezas é natural que determinado tipo de serviço eles se neguem a fazer e passem aos países mais pobres, dando a estes a oportunidade de se desenvolverem também, e assim será ad infinitum.

3. “Quem fica com o valor que produzem?”

Conforme você mesmo citou sobre o texto A história do trabalho “Há pontos muito polêmicos em seu texto. O principal deles é o da tese de que a era da informação traz iguais oportunidades para todos, visto que a "ferramenta" informação, sendo levada ao status de meios de produção, estaria disponível a todos. Esta é a fonte da tese do trabalho imaterial. que o meio de produção "informação" estaria disponível a todos, acabou a exploração. não consegue "ter" para estar bem aqueles que seriam incompetentes, e mereceriam, portanto a condição de despossuídos! Esta tese é recorrente ao longo da História”.

A China e a Índia privaram seus habitantes seja pela pobreza ou pelo sistema de governo adotado de obter informação. E assim que decidiram entrar no mercado globalizado acabaram tendo que pagar com trabalho o que perderam em informação.

Respondendo objetivamente a questão colocada acima. Os dois ficam com a riqueza gerada. Uma parte maior, devido à valorização deste ativo chamado informação, fica com que a detém e outra menor com aquele que faz o trabalho braçal.

4. “O que significa a exploração das riquezas minerais na África e em demais países do Sul?”

Nada mais nada menos que a falta de informação da população local para valorizar os minerais que possuem e para extrai-los de forma eficaz a fim de gerar riqueza. Como não possuem tais conhecimentos acabam permitindo que outros mais informados assim o façam.

  1. “O que significa a perda de direitos trabalhistas na Europa, Japão e em países como o Brasil? E a precarização do trabalho: terceirização, informalidade, trabalho parcial, e tantas modalidades "de autonomização" da força de trabalho?”

Ainda bem que isso vem acontecendo. Direitos trabalhistas podem por um lado proteger os menos privilegiados de sofrer exploração. Fato este que não acontece quando a pessoa possui boa educação. Seria muito mais eficaz o governo priorizar a educação (coisa que nunca foi feita no Brasil, nem no governo que se diz “do povo” e que na ignorância desse povo uma forma barata de comprá-lo através de programas assistencialistas como o Bolsa-Família) e assim permitir que a própria pessoa se proteja, sem precisar da intervenção do Estado.

Direitos trabalhistas protegem pessoas incompetentes e sem vontade, que permanecem sugando empresas e principalmente o Estado.

Vamos inverter a pergunta. Como seria uma administração pública se houvesse maiores liberdades trabalhistas e o ingresso acontecesse a partir de uma meritocracia mais clara como temos no mercado de trabalho?

Se você é funcionário público é muito difícil ser demitido por incompetência, (de forma alguma estou falando de você, acompanhei seu trabalho de perto e sei que se houvessem no Brasil funcionários com a competência e o comprometimento que você possui, nosso país certamente estaria listado entre os mais ricos do mundo) nãoregras claras para a sua ascensão e a meritocracia depende mais de política do que de resultados.

O governo deve ter um papel de fiscalizador, mas quanto menos intervir melhor para todos. A força de trabalho deve ser regulada pelo próprio mercado e assim sendo, é natural que caiam proteções da incompetência como as que foram citadas acima.

Obrigado pela atenção mais uma vez.

Daniel De Nardi

Comentários

  1. Caro Daniel,

    Apesar de não ser nessas ocasiões que me manifesto mais no teu blog, a verdade é que a maioria das vezes concordo contigo. Gosto do que leio. Neste caso poderia assinar por baixo em quase tudo.

    Há algo que para mim não faz sentido nos dois discursos, que é essa tendência a polarizar tudo entre socialismo e capitalismo, ou entre esquerda e direita. Sinceramente creio que isso é utilizar jargão mais que gasto.

    Creio que o ideal é utilizar esta prespectiva dialéctica: o realista(que alguém chamaria cinico) e o religioso (ou idealista).

    O realista constacta o facto do mundo ser o que é, e tende adaptar-se e fazer com que ele mesmo, o seu país, a sua familia etc estajam o mais bem integrados possivel.

    O Idealista é o insatisfeito com a realidade, o critico compulsivo, que não aceita a realidade como ela é (o ser humano é geneticamnete esquisófrénico rsrsr), que sonha com paraísos artificiais (o "céu", o éden, o comunismo, e coisas do genero) e que em alguns casos até concretiza projectos (religiosos) para tentar ir nessa direcção, salvar o mundo, resolver todos os problemas, as injustiças e desigualdades (as pessoas não se identificam precisamente pela desigualdade?)...

    No fundo todos temos um pouco dos dois aspectos, mas na idade adulta querer-se-ia qu eos pés estivessem bem acentes na terra , sem que isso prejudique a nossa capacidade de sonhar.

    Desculpem o comentário. Eu sou um cinico. Nem sequer considero que haja solução para os problemas. Simplesmente não considero a existencia de problema algum...

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  2. Gostei muito do comentário.
    Obrigado pelo feed-back.
    Abs

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