Contradição seja bem-vinda!

Aprendemos desde muito cedo a ver o mundo como uma dicotomia de certo e errado. A educação nos induz a esta postura, fazendo com que sigamos o que se acredita como sendo certo, evitando o que se vende como mal e se afastando dos chatos, que são apenas diferentes. No entanto, o discernimento entre bem e mal, certo e errado, claro e escuro é uma das piores criações humanas, ele não existe dentro da natureza e é por isso que nenhum animal tem sentimento de culpa e desfruta a vida que lhe foi dada tranquilamente.

Podemos demonstrar a inexistência real da dualidade quando, por exemplo, mudamos de localização e detectamos que o que é errado em um lugar passa a não ser mais equivocado em outro, ou ainda conversando com aquele que achávamos chato e descobrindo que ele tinha a mesma opinião a nosso respeito. Quem estava com a razão? Certamente nenhum, ou os dois, depende apenas da ótica. Olhando sob uma lente angular mais ampla, de fato não existe certo ou errado, são apenas pontos de vista, assumidos como verdades absolutas por aquele que compra a idéia.

Embora a Igreja Católica tenha se tornado uma das maiores instituições julgadoras da história, a bíbliaindícios para livrar-nos dos constantes julgamentos, aconselha que se desejamos viver no paraíso podemos comer todos os frutos menos... não, você não vai ler maçã. Este fruto foi apenas uma representação feita por um desconhecido pintor da idade média para representar o real fruto proibido. Após este quadro, vários outros pintores passaram a copiá-lo e caiu no senso comumque quase nunca é verdadeiroque o fruto proibido é a maçã, na bíblia não está assim. Não há nenhuma menção anterior ao período obscurantista, de que o fruto proibido seria este. O que na verdade não era permitido era comer da árvore que continha o conhecimento do bem e do mal, ou seja, o julgamento. Foi isso que fez o homem perder sua belíssima ingenuidade infantil, que muito nos alegra. Vejamos como está escrito em uma das versões bíblicas em que Deus, logo no começo no Gênesis, diz no capítulo 2, versículos 16 e 17: “E lhe deu esta ordem:
De toda Arvore do Jardim comerás. Mas da Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal não Comerás”. É este tipo de ciência que divide o mundo e que nos aprisiona numa vida limitada pelos paradigmas que nos foram impostos na infância. Os sábios que escreveram este texto sabiam que o que faz o homem sofrer é justamente a sua capacidade intrínseca de julgar. Quando julgamos, o fazemos sobre o nosso prisma dizendo que o nosso está certo em detrimento do outro que está errado. Criamos com esta atitude um enorme bloqueio para novas idéias e repetiremos os mesmos comportamentos que nos ensinaram, mesmo que estes não sejam os melhores para a nossa felicidade.

Por conta disso, toda vez que uma contradição às nossas opiniões aparece, nosso primeiro instinto não é entender o outro lado, mas rebater com a máxima veemência, pois se a outra opinião prevalecer sairemos derrotados. Repare que a estrutura do pensamento está repleta de dualidades “minha opinião”, “prevalecer”, “derrotados”. No inconsciente é assim que sentimos, infelizmente.

A conseqüência disso é o baixo aprendizado e a falta de consciência de que pode haver uma idéia que é melhor que a sua e que a do outro também, um insight que transcenda essa dualidade e que seja mais abrangente que as duas. Jamais devemos criar esse bloqueio em relação às contradições, o que elas fazem é melhorar nossa forma de expor nossos pensamentos e fortalecem nossas convicções.

Para conseguirmos tal nível de aprendizado é preciso que, antes de qualquer coisa, aprendamos a ouvir com sinceridade. Escutar com empatia, com o coração, sem julgar, apenas absorvendo o conhecimento e colocando-se realmente no lugar da outra pessoa. Tente entender profundamente e perceber o motivo mais profundo pelo qual a pessoa apresenta aquela colocação. Nem sempre ela está contra, às vezes apenas não soube se expressar ou você não se explicou bem.

Esse tipo de audição profunda possibilita que os pensamentos e sentimentos das outras pessoas penetrem profundamente o nosso ser. No entanto, para ouvirmos dessa maneira é necessário que estejamos fortalecidos internamente. É importante que você tenha muito claro quais são os princípios que vêm da sua mais profunda consciência. Esses pontos não podem mais estar vulneráveis, caso contrário o tornarão totalmente suscetível a influências externas. Você se tornará altamente instável e logo em seguida infeliz. Por isso necessitamos de amadurecimento interno, conquistando através do autoconhecimento a consciência do que realmente são princípios imutáveis para nós nessa vida, e desses jamais devemos abrir mão.

Contradições devem sempre ser bem vindas, elas nos possibilitam ver o mundo sob outro prisma de uma forma que pode estar acima da sua maneira. Podem ainda gerar união de opiniões que levarão uma idéia sublime a muitas pessoas. Opiniões contrárias às nossas jamais podem gerar melindres ou desagrados em s, elas fazem parte da vida e ainda bem que nem todos pensam igual, caso contrário qual seria a graça do mundo?

A transcendência da dualidade é um grande desfio humano. Conquistar a capacidade de ouvir opiniões e não julgá-las, mas apenas entendê-las é um dos maiores conhecimentos que podemos ter na vida. Disso resultará uma abrangente visão do mundo e uma capacidade de aprender com todas as situações, sejam elas “boas ou ruins”.

Comentários

  1. "Abaixo a tirania do OU. Viva a genialidade do E"! A dualidade utilize-se do ou. Experiencias boas OU ruins... Se mudarmos o ponto de vista as situações sempre tem prós E contras.

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  2. "A transcendência da dualidade é um grande desfio humano. Conquistar a capacidade de ouvir opiniões e não julgá-las, mas apenas entendê-las é um dos maiores conhecimentos que podemos ter na vida. Disso resultará uma abrangente visão do mundo e uma capacidade de aprender com todas as situações, sejam elas “boas ou ruins”."

    è isos mesmo.

    Mas já que o tema inclui as contradições ...

    Creio que a capacidade discriminativa não é de todo negativa. Ela também é VIVEKA, um caminho para o entendimento.

    Por outro lado o bem e o mal são absolutamente reais, absolutos (na sua absoluta relatividade) e simples de compreender. Basta ter um ponto simples de referência: o ego!

    Se alguma coisa convém a um determinado ego num determinado momento, ele julga como bom (e por derivação, como bem), e vice-versa.

    Não posso deixar de te dar razão quando dizes:"fazendo com que sigamos o que se acredita como sendo certo, evitando o que se vende como mal e se afastando dos chatos, que são apenas diferentes."

    Às vezes penso qu eao estabelecer estas dialécticas contraditórias contigo no teu blog estarei a ser chato, e que isso possa provocar um afastamento. Espero que não.

    Abraço.

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