GUSTAVO FRANCO

Num passado não muito distante o que as pessoas mais buscavam para alcançar sucesso profissional era especialização. O passar dos anos virou muitos dos nossos dogmas de cabeça para baixo. Com relações cada vez mais sistêmicas afetando-nos diariamente, não podemos mais tentar resolver os problemas isolando-os tal como faziam os antigos médicos do cérebro com suas lobotomias. As pessoas que serão mais bem sucedidas nestes novos tempos são aquelas que conseguirem entender que problemas complexos só aceitam soluções multidimensioais. Para que as mudanças funcionem, precisam atuar em múltiplas dimensões até chegarem a causa. Caso contrário, funcionarão apenas como paliativo.

Gustavo Franco começou sua carreira como professor da PUC do RJ. No início da década de 80 doutorou-se em Harvard defendendo a tese num assunto para aquela época inútil - as hiperinflações. Buscou a bibliografia nas catacumbas das bibliotecas, pois naquela época, esta doença parecia estar extinta da sociedade. Por acaso, alguns anos depois o Brasil passou a ver os preços dos produtos sendo reajustados mais de 60% ao mês. Assim que FHC assumiu o ministério da Fazenda para tentar resolver este estorvo, chamou Gustavo para ajudá-lo na elaboração de uma cura para aquela doença rara. O sucesso do plano Real levou Gustavo Franco à presidência do Banco Central.

De dez anos para cá, Gustavo foi preencher a última lacuna que lhe faltava dentro de um sistema moderno de desenvolvimento que engloba - universidades, setores públicos e empresas. Criou a Rio Bravo, um fundo de investimentos com foco na região nordeste do Brasil.

A economia sempre me fascinou por retratar de forma transparente o comportamento humano. Nada consegue demonstrar melhor o que sentimos do que o nosso consumo. Por isto, para entender economia é preciso estudar história, filosofia, pscicologia, artes e outras ciências.

Junto com os meus companheiros do CEJE-FIESP (Comitê de Economia dos Jovens da FIESP) organizamos uma palestra por ele proferida na última terça-feira. Tive o privilégio de buscá-lo no escritório e levá-lo para o hotel. Falamos prioritarimente sobre um dom que ainda não citei (o que mais me atrai em sua carreira) - Gustavo é escritor. Não apenas de livros técnicos de sua área, o ex-presidente do Banco Central desenvolveu um tipo de literatura interessante na qual mostra o quanto grandes escritores como Fernando Pessoa, Machado de Assis e para o próximo livro Sheakespeare conheciam de economia e como isto influenciou suas obras.

Conversamos sobre o impacto da obra de Ayn Rand e do quanto uma literatura direta demais acaba sendo lida apenas por aqueles que já concordam com certos conceitos. Do outro lado Machado de Assis, de forma mais sútil, consegue injetar idéias sem precisar ser tão oblíquo. Pois como Gustavo falou "o autor precisa ser lido, se você é direto demais, o leitor tem grande chance de te largar, mas se consegue puxá-lo para dentro do texto, mesmo que não concorde ou mesmo que se irrite ficará com sua idéia na cabeça por um bom tempo."